- Folha de S. Paulo
Um bom preditor de sucesso na vida é a capacidade de, na infância, exercer o autocontrole e trocar a gratificação imediata por uma recompensa maior no futuro.
Essa noção é ilustrada pela célebre experiência do "marshmallow", de Walter Mischel, de Stanford. Nos anos 60, ele submeteu garotos de cerca de quatro anos ao seguinte dilema: eles podiam escolher entre ganhar um "marshmallow" no instante em que tocassem uma campainha, ou ficar sozinhos diante do doce e aguardar a volta do pesquisador 15 minutos depois, hipótese em que receberiam duas guloseimas.
Décadas depois, estudos de "follow-up" mostraram que aqueles que resistiram por mais tempo apresentavam melhores resultados numa série de indicadores como desempenho acadêmico, envolvimento com drogas, taxas de divórcio, peso corporal.
Extrapolando essa ideia para países, o Brasil não passaria no teste do "marshmallow", a julgar pelo que acontece com a reforma da Previdência. Acabamos de ser deixados a sós com as tentações e já estamos prestes a acionar a campainha, trocando o futuro pela satisfação imediata.
Que certas categorias profissionais, sindicatos e pessoas prestes a aposentar-se pressionem para defender seus interesses é esperado. Faz parte da democracia. O sistema político, porém, deveria atuar como o córtex pré-frontal e modular os impulsos mais imediatistas com o propósito de assegurar uma transição ao mesmo tempo mais tranquila e mais justa para grupos com menor capacidade de vocalização, incluídas aí as próximas gerações.
Espero estar errado, mas, ao que parece, nem os parlamentares nem o governo farão isso, optando por uma reforma meia-boca agora, o que nos obrigará a voltar ao assunto dentro de poucos anos, aí com a faca ainda mais perto do pescoço. Mas estamos numa democracia. Se o país insistir em caminhar voluntariamente para o buraco, não há como impedir.
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