Sem Lava-Jato, Brasil amanhã será o Rio de Janeiro, diz Gilmar
Presidente do TSE descreve problemas e critica situação do estado: ‘Como dói’
Henrique Gomes Batista | O Globo
CAMBRIDGE, EUA — O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou nesta sexta-feira que, sem as ações da Operação Lava-Jato, o Brasil "será o Rio de Janeiro amanhã". Questionado em uma conferência nos Estados Unidos, Gilmar Mendes não poupou críticas à situação do estado. No mesmo evento, o ministro afirmou que já há casos de três vereadores em São Paulo suspeitos de terem sido eleitos pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O prefeito de Embu das Artes (SP), por exemplo, é acusado de uma série de crimes.
— Acho que nem precisa descrever: milícias, tráfico de drogas e agora tudo isso que está acontecendo, envolvendo todos os poderes: Legislativo, Executivo, Tribunal de Contas, tudo mais. Se não houver interrupção neste processo, o Brasil será amanhã o grande Rio de Janeiro. O Rio é um retrato na parede. Como dói — afirma Gilmar Mendes.
Ainda segundo Mendes, se uma reforma política não ocorrer a tempo de ser utilizada para as eleições de 2018, o país poderá ser “entregue” ao crime organizado e instituições como igrejas. No evento Brazil Conference at Harvard & MIT, em Cambridge (EUA), ele disse ser preciso fazer algo até o dia 2 de outubro, prazo para que as regras da reforma política passem a valer nas próximas eleições presidenciais.
— Vamos para a eleição de 2018, que é uma eleição grande, sem modelo específico. Só com doação das pessoas físicas, que no Brasil não tem tradição, e muito provavelmente vamos ficar entregues ao crime organizado, a pessoas que já trabalham no ilícito ou a algumas organizações que têm modo próprio de financiamento (igrejas) coisas assim. Corremos o risco de ter uma eleição muito distorcida — disse ele minutos antes de participar de um debate sobre financiamento eleitoral no Brazil Conference at Harvard and MIT.
MODELO ELEITORAL A DECIDIR
Gilmar afirmou que nem mesmo o financiamento público de campanha pode resolver o problema. E deu um exemplo: se o valor for de R$ 5 bilhões e um terço ficar com as eleições para deputados federais e estaduais, haveria R$ 160 mil para candidatos federais e R$ 80 mil para estaduais, o que seria incompatível, em sua opinião.
O ministro acredita que antes de pensar no financiamento, é preciso decidir o modelo das eleições. Ele defendeu o voto distrital misto como uma forma de aumentar a representatividade e reduzir os custos, além de dizer ser mais democrático. Gilmar ainda criticou a coligação em eleições proporcionais. Sem estas mudanças, acredita, continuará existindo o caixa 2.
— Temos de mudar o sistema. O sistema dá sinais de exaustão e não podemos prosseguir nele — afirmou o ministro. — Foi o nosso erro no Supremo (Tribunal Federal ) ao decidirmos o financiamento sem discutirmos o sistema eleitoral, porque essas coisas são conjugadas. Uma precede a outra.
Ele afirmou que o Brasil está diante de um dilema: não sabe o que quer, mas sabe o que não quer no sistema eleitoral. Gilmar afirma que os problemas políticos afetam a economia. Em sua opinião, o Brasil precisou de “método” para criar a “tempestade perfeita”.
— A minha mensagem, que vou deixar aqui, é que precisamos afastar o candidato do dinheiro. O financiamento precisa vir de partidos e de partidos mais autênticos. Hoje nós temos 28 partidos com representação no congresso e 35 no TSE — disse ele.
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