A líder da Rede falou em reforma 'excludente, que fortalece o poder dos partidos e de seus caciques por meio da lista fechada', durante palestra no MIT
Cláudia Trevisan | O Estado de S. Paulo
CAMBRIDGE - No momento em que a sociedade brasileira exige maior participação, o Congresso discute uma reforma política excludente, que fortalece o poder dos partidos e de seus caciques por meio da lista fechada e institucionaliza o abuso do poder econômico com dinheiro público, afirmou na manhã desta quinta-feira, 7, a fundadora da Rede, Marina Silva, derrotada nas disputas presidencial de 2014 e 2010.
Em palestra no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Marina defendeu a Lava Jato, lamentou o clima de intolerância e de falta de diálogo no Brasil e disse que ainda não decidiu se disputará a presidência em 2018. “Ainda estou no processo de discernimento”, declarou durante participação na Brazil Conference at Harvard & MIT.
Na avaliação de Marina, a atribuição de rótulos a pessoas que têm posições divergentes é um dos fatores que dificultam o debate público no país. “Por que vou debater com um eco-chato?”, exemplificou, usando um dos rótulos aplicados a ela própria. Quando o moderador se referiu a “coxinhas” e “mortadelas”, ela fez outra auto-referência: “Falta incluir os vegetarianos”.
Marina ressaltou que é favor do financiamento público de campanha, mas criticou o fato de que sua distribuição será feita com base em bancadas definidas em eleições anteriores, nas quais o abuso do poder econômico e a prática de caixa 2 eram comuns. Ela também criticou o valor de R$ 2,5 bilhões proposto para o Fundo Partidário, que, em sua opinião “institucionalizaria” o abuso econômico. “Como os partidos têm o monopólio da política, eles vão virar autarquias, porque serão financiados pelo contribuinte e terão o monopólio da política. Minha proposta é quebrar o monopólio da política, estabelecendo candidaturas independentes.”
A líder da Rede também criticou o projeto de abuso de autoridade, por considerá-lo uma tentativa de inibir o trabalho do Judiciário. Segundo ela, a Lava Jato é uma das coisas mais importantes que aconteceram no Brasil desde a redemocratização e está, na prática, realizando uma reforma política. Marina disse que a Lava Jato deverá fortalecer o respeito às leis e acabar com a expectativa de impunidade, o que tornaria a política “desinteressante” para os que querem fazer negócios escusos. “Vai ficar na política quem quer prestar serviço. Isso já é uma grande reforma política.”
A proposta de anistia ao caixa 2 também foi atacada por Marina, para quem a Justiça Eleitoral tem de ser “exemplar” em sua atuação.
Em relação a 2018, Marina afirmou que seu “projeto de vida” não é ser presidente do Brasil. Mas a ex-ministra do Meio Ambiente observou que tem responsabilidade em relação ao que ocorre no país e com os mais de 20 milhões de pessoas que votaram nela nas últimas eleições.
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