O depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao juiz Sergio Moro pouco acrescentou, ao longo de suas quase cinco horas, à linha de raciocínio adotada pelos advogados de defesa do ex-presidente.
Concentrando-se na suspeita de dois favores concedidos pela construtora OAS —um apartamento em Guarujá e as despesas para a guarda de objetos presenteados oficialmente a Lula como chefe de governo—, o interrogatório se deu de forma objetiva e protocolar.
Houve ocasionais momentos de tensão, outros tantos de expansividade; nada capaz de reforçar as teses persecutórias do petista.
Este, por vezes, soube aproveitar sua habilidade retórica para sobressair-se com respostas espirituosas ou menções ao cotidiano familiar, que têm o potencial de humanizá-lo aos olhos do público.
Também valeu-se da oportunidade para apresentar as recorrentes queixas contra a imprensa, amparadas em levantamentos de notícias tidas como negativas para si.
Entretanto as expectativas de um confronto aberto, que animavam as facções mais extremadas a favor de Lula ou Moro reunidas em Curitiba, dissiparam-se no que, afinal, consiste num passo importante, mas em nada decisivo, de um processo a prolongar-se ainda por bom tempo (e há outros dois apenas no âmbito da Lava Jato).
De concreto, o ex-presidente negou ter solicitado benefício ao empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, que o convidou a visitar um apartamento de três andares em Guarujá.
Ficará a critério de Moro avaliar a plausibilidade dessa narrativa, bem como a solidez da acusação. No relato de Lula, o presidente de uma empreiteira apenas tentava vender um apartamento; a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro, é que decidia sobre os rumos do negócio.
O depoimento trouxe, de todo modo, uma novidade suplementar. O ex-presidente admitiu ter agendado encontro com Renato Duque, então diretor da Petrobras, e posteriormente condenado por recebimento de propina.
Lula teria desejado saber se eram verdadeiras as notícias que circulavam a respeito do envolvimento de Duque em casos de corrupção. A conversa foi agendada por João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, em 2014, quando Lula não ocupava o Planalto. Na ocasião, Duque teria negado a veracidade das acusações, e o chefe petista, ficado satisfeito com a resposta.
Há razões para desconfiar de tão sumária narrativa, ainda mais quando se leva em conta que Lula contradiz, agora, afirmação anterior de que desconhecia qualquer ligação entre Vaccari e Duque.
A credibilidade do ex-presidente da República não se fortalece, por suposto, com essa linha de defesa; bem pesados os fatos, é entretanto a única que lhe resta antes de a Justiça pronunciar seu veredito.
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