As delações dos irmãos Batista provocou a descida ao inferno do governo do presidente Michel Temer, mas a prisão de Joesley Batista e o diretor de relações institucionais da empresa, Ricardo Saud, Joesley Batista, sócio da JBS e Ricardo Saud, diretor de relações institucionais da empresa não significam que ele recuperará a normalidade. Na semana final do mandato de Rodrigo Janot à frente da Procuradoria Geral da República, um novo processo contra o presidente poderá ser encaminhado, mesmo que a suspensão dos benefícios da delação premiada de Joesley tenha em princípio enfraquecido suas novas investidas.
Pouco menos de uma semana após Joesley e Saud terem entregue ao MP uma fita com quatro horas de papo livre, onde há demonstrações de tudo, especialmente de megalomania e certeza da impunidade, o ministro Edson Fachin determinou sua prisão por 5 dias para que prossigam, sem obstáculos, as investigações sobre possíveis omissões dolosas dos delatores. A suspeita principal, que motivou o pedido de prisão também do ex-procurador Marcelo Miller - negada por Fachin -, é a de que quando ainda exercia suas funções ele já cooperava com os irmãos Batista para a obtenção do benefício da imunidade total com as delações. Segundo Janot, Miller já mantinha contatos com o escritório que defendeu Joesley, a Trench, Rossi e Watanabe, antes de março, isto é, antes da fatídica gravação da horripilante conversa entre o empresário e o presidente Temer no Palácio do Jaburu.
A teoria da "armação" defendida pelo Planalto ganhou ares de concretude com a suspensão da delação premiada e a cilada que, com sua arrogância, Joesley armou para si próprio com as gravações só entregues, depois de ter certeza de que a Polícia Federal já tinha acesso ao teor da conversa. A convicção de que Janot está irremediavelmente enfraquecido, e a de que Temer, em decorrência, ganhou novamente terreno político e levara adiante as reformas foi um dos motivos que levou a Bolsa de Valores de São Paulo a bater o recorde histórico e fechar do pregão de ontem a 74319 pontos. Pelos padrões das surpresas criadas pela Operação Lava-Jato, porém, isso pode não passar de euforia episódica.
O Supremo Tribunal Federal deve julgar duas ações da defesa do presidente amanhã. A primeira coloca Janot como suspeito em suas investidas contra Temer, que seria uma vítima da perseguição do procurador-geral. A segunda é um inacreditável pedido de suspensão de uma eventual segunda denúncia de Janot, seja em que termos forem. Fachin já negou a suspeição de Janot e agora é o plenário do Supremo que decidirá a questão. Se considerado suspeito, o procurador nada mais poderá apresentar contra Temer, uma vitória clara do presidente. Restam, porém, as provas.
O procurador-geral tem em mãos as delações de Lucio Funaro, beneficiário de uma incrível e polpuda bolsa-cadeia, junto com o ex-deputado Eduardo Cunha, paga pelos acionistas majoritários da JBS para que permaneçam calados sobre as malversações de dinheiro da turma do PMDB da Câmara dos Deputados. Funaro disse ter intermediado o repasse de R$ 7 milhões de propinas a Cunha, Temer e ao ministro da Agricultura, Antônio Andrade, dinheiro proveniente da JBS, em 2014 (Veja, última edição). Funaro conta que Michel Temer participava da distribuição de recursos ilícitos do PMDB e que Cunha o informava sobre as divisões da propina. Moreira Franco, Geddel Vieira e Eunício Oliveira também, segundo ele, receberam propinas. Joesley teria comprado seu silêncio por prometidos R$ 100 milhões - R$ 4,6 milhões efetivamente pagos, mesmo com Funaro na prisão.
A descoberta das malas com R$ 51 milhões pertencentes a Geddel Vieira, que frequentou o círculo íntimo do presidente Temer e foi secretário de Governo, é a prova de que o imprevisível é o roteirista principal da política na era da Lava-Jato. São fortes os indícios apontando para todos os melhores amigos de Temer e para ele próprio. O presidente criou um escudo de proteção no Congresso, que pode ser suficiente para barrar uma segunda denúncia, a menos que ela seja contundente e carregada de provas.
Nem as investigações vão parar, nem a Procuradoria se extingue com a saída de Janot. Sua sucessora, Raquel Dodge, tem outro estilo, mas dureza comparável no combate à corrupção. Temer pode terminar o mandato, mas dificilmente recobrará sua capacidade de iniciativa política - terá a sombra da Justiça a espreitá-lo no tempo que lhe resta.
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