luz branca da sacada, sobre o ladrilho de um apartamento vazio, as várias malas de dinheiro encontradas pela Polícia Federal na Operação Tesouro Perdido oferecem uma imagem que, reproduzida à exaustão, quase dispensa comentários.
Ela tem o poder do fato bruto, da evidência opulenta. Mesmo o nome da operação policial parece incapaz de expressar a contento o que se vê. A visualização consagrada na literatura de um tesouro não se conforma às prosaicas embalagens de papelão e às malas corriqueiras flagradas na fotografia.
E não parecia tão perdida assim aquela soma, jogada num imóvel bem ventilado, cujo acesso é sujeito a vigilância eletrônica.
Entre outros elementos, a presença de impressões digitais do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) no apartamento contribuiu para determinar, na madrugada desta sexta-feira (8), que a Justiça decretasse sua transferência para o presídio da Papuda (DF).
O ex-ministro não tem sorte com apartamentos em Salvador. Perdeu seu cargo no governo Michel Temer, na Secretaria de Governo, depois de divulgadas as pressões que tentou exercer para que fosse liberada, pela pasta da Cultura, a construção de um prédio residencial embargado pelo instituto do patrimônio histórico.
Geddel Vieira Lima já se encontrava em regime de restrição de liberdade, por outro motivo –havia sido posto atrás das grades em razão de conversa na qual se apontaram sinais de obstrução de Justiça. Posteriormente, a medida foi convertida em prisão domiciliar.
Nada mais espanta em matéria de corrupção no Brasil. Mas não deixa de ser notável o fato de que, já acumulados tantos feitos da Operação Lava Jato, e já tão recorrente o expediente das delações premiadas, tantos políticos experientes sejam colhidos em gravações suspeitas, e tanto dinheiro vivo venha a se revelar acumulado.
A descoberta de tal soma —mais de R$ 50 milhões em moeda nacional e estrangeira, segundo contagem que se arrastou por cerca de 14 horas— ligada a um ex-assessor próximo do presidente Michel Temer compromete, sem dúvida, o relativo alívio que se via no Planalto devido aos percalços recentes na delação de Joesley Batista.
Há a observar, contudo, que a oposição não tem tanto a comemorar com o episódio. Suspeita-se que as malas incluam o fruto de irregularidades na Caixa Econômica Federal, onde Geddel era vice-presidente, durante o governo Dilma Rousseff (PT).
Investigam-se, no caso, supostas propinas de R$ 20 milhões. Feitas as contas, só se pode dizer que sobra dinheiro e culpa para todos.
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