Não se pode deixar cassinos num país em crise de segurança, onde há lavagem de dinheiro
Há grupos de interesses que atuam com desenvoltura no Congresso. Normal. Mesmo que o lobby não esteja regulamentado no Brasil, há bancadas pluripartidárias que atuam de forma coordenada em favor de projetos, e sempre foi assim. Não é difícil identificá-las. Entre as mais conhecidas, há a “bancada da bala”, de parlamentares que recebiam financiamento para campanha de fabricantes de armas — quando este tipo de apoio por empresas ainda era legal —, e existem os defensores da legalização do jogo de azar, os cassinos. Fechados pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, em 1946, os estabelecimentos ficaram na memória de saudosistas de uma boemia que poucos viveram, nem tomaram contato com casos de doentia dependência da jogatina.
Cada lobby procura usar argumentos que mais tocam a população e o legislador. No caso do grupo das armas, que busca desmontar, por meio de medidas legais, o Estatuto Desarmamento, tenta-se vender a ideia, sem sustentação na vida real, de que o cidadão armado tem condições de se defender de bandidos adestrados no uso de pistolas e fuzis.
Na campanha pela legalização do jogo, o principal chamariz para os políticos são o faturamento do negócio e, mais importante, os impostos que supostamente serão arrecadados. Mais ainda numa crise fiscal histórica como esta, em que o Rio de Janeiro talvez seja o caso mais dramático. Por erros administrativos dos governos Sérgio Cabral e Pezão — além da corrupção —, mais os efeitos da crise nacional, o estado e a cidade têm serviços em virtual colapso. Acenar com um dinheiro aparentemente fácil é argumento poderoso a fim de conseguir apoio para reabrir cassinos. Mas não passa de perigosa ilusão. E não se deve apenas ao risco do vício.
O jogo de azar tenta retornar legalmente ao país em um momento especial, em que o crime organizado avança no vácuo da crise fiscal que afeta órgãos de segurança. Se já é difícil a repressão às quadrilhas, pode-se imaginar o que acontecerá com as conexões que serão estabelecidas entre o jogo e a criminalidade brasileira. Alerte-se que a chegada de cassinos legais acrescentará mais um segmento, de escala industrial, nas eficientes lavanderias de dinheiro sujo que funcionam no país, conectadas com o exterior. Provam isso os escândalos lulopetistas do mensalão — desvio de dinheiro do Banco do Brasil para comprar apoio ao primeiro governo Lula no Congresso — e, principalmente, o petrolão, no qual bilhões foram movimentados a partir de contratos de empreiteiras internacionalizadas com a Petrobras, sob as bênçãos de Lula e Dilma. Foi usada ampla tecnologia de lavagem, a ser ampliada com a indústria de cassinos.
Deve-se registrar que uma nova geração de bicheiros trouxe máquinas caça niqueis em associação com máfias internacionais. Esses esquemas já conectados com o crime internacional receberão a legalização do jogo como uma dádiva. Se a legalização dos bingos produziu assassinatos entre grupos rivais, violência mantida com os caçaníqueis, imagine-se o que acontecerá com os cassinos. Não será possível voltar à década de 40. Cassino da Urca nunca mais.
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