Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - O depoimento de Antonio Palocci reforça - ou confirma - a suspeita do Ministério Público de que Lula era o chefe do esquema de corrupção na Petrobras. O ex-ministro da Fazenda é o primeiro integrante do "núcleo duro" dos governos petistas a falar da suposta participação de Lula, e também de Dilma, no esquema que desviou bilhões de reais da Petrobras. A Lava-Jato nunca foi tão fundo no mundo companheiro do PT. Politicamente é um desastre para Lula e o partido. Juridicamente, convém esperar.
Palocci falou o que o Ministério Público queria ouvir e deu vida ao famoso "power point" do procurador Deltan Dallagnol, no qual todas as setas apontavam para Lula. O ex-ministro arrastou ainda mais o ex-presidente e o PT para o fundo do poço, em um momento em que Lula parecia ganhar fôlego, após uma caravana mais bem do que mal-sucedida pelo Nordeste.
Depoimento une ex-presidente e Petrolão
O depoimento do ex-ministro Antonio Palocci reforça - ou confirma - a suspeita do Ministério Público Federal de que Lula era o chefe do esquema de corrupção na Petrobras. Palocci disse ao juiz Sergio Moro que Lula não só tinha conhecimento do que se passava na Petrobras como autorizou o desvio de recursos originados em contratos para a aquisição de sondas para a campanha presidencial de 2010, a eleição de Dilma Rousseff.
Palocci disse mais: Dilma também sabia. O ex-ministro da Fazenda é o primeiro integrante do chamado "núcleo duro" dos governos petistas a falar da suposta participação de Lula, e também de Dilma, no esquema que desviou bilhões de reais da Petrobras. A Lava-Jato nunca foi tão fundo no mundo companheiro do PT. Algo parecido só se José Dirceu resolvesse falar coisas parecidas. Dirceu e Palocci eram os homens fortes do início da era lulista. Se tudo desse certo, um dos dois seria o candidato à sucessão de Lula. Politicamente é um desastre para o PT e Lula. Juridicamente, convém esperar.
Palocci afirmou que a relação de Lula com a Odebrecht era "movida a propina" e que o ex-presidente avalizou uma espécie de "pacto de sangue" pelo qual a empreiteira pagaria R$ 300 milhões ao PT, acordo que incluiria o terreno para a construção do instituto Lula, a reforma do sítio de Atibaia e o pagamento a Lula de R$ 200 mil por palestra.
"Pacto de sangue" cheira a marquetagem, título pronto para jornal. Palocci falou o que o Ministério Público queria ouvir e deu vida ao power point do procurador Deltan Dallagnol, no qual todas as setas apontavam para Lula. Não por acaso Dilma classificou o depoimento de "delação implorada" - há meses que Palocci, preso em Curitiba, tenta sem êxito firmar um acordo de delação premiada. Em depoimento anterior, antes de ser condenado a 12 anos de prisão, Palocci aproveitou uma audiência pública para dizer que tinha sim o que oferecer à Justiça, apesar da relutância do MPF.
O Judiciário pesará o valor do depoimento de Palocci mais adiante. Politicamente, no entanto, é fato que o ex-ministro arrastou ainda mais o ex-presidente e o PT para o fundo do poço. Isso num momento em que Lula parecia ganhar fôlego, após uma caravana mais bem do que mal sucedida pelo Nordeste, região onde o ex-presidente ainda é venerado pela maioria da população, como demonstram as pesquisas. É improvável que exista hoje no país um político capaz de atrair esse mesmo público na região Nordeste, onde Lula também é bajulado como grande eleitor por políticos de todas as cores partidárias.
Mas Lula tem a casca grossa. Ele já foi condenado pelo processo do tríplex, no dia 13 será ouvido por Moro por conta da denúncia do sítio de Atibaia, responde a três outros inquéritos na primeira instância e a duas novas denúncias apresentadas nesta semana pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na política, Lula mostra grande resiliência, tanto que lidera com folga as pesquisas de opinião para a Presidência da República. Resta saber se a voz profunda de Palocci vai mudar essa situação; juridicamente, muita água vai rolar nos tribunais antes que o ex-presidente seja efetivamente impedido de disputar o Palácio do Planalto nas eleições gerais de 2018.
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