A um ano da eleição, governador de São Paulo intensifica programas voltados a eleitores de baixa renda e mira em voto petista num cenário sem Lula
Adriana Ferraz e Ricardo Galhardo | O Estado de S. Paulo
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, iniciou um movimento calculado de volta às origens do PSDB. De olho no voto petista em um eventual segundo turno presidencial sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio da Lula, Alckmin tem reforçado o discurso social-democrata e intensificado programas e obras direcionados a eleitores de baixa renda.
A estratégia é desvincular seu nome de potenciais adversários mais identificados com a centro-direita, como Jair Bolsonaro (PSC-RJ), Henrique Meirelles (PSD-SP) e o próprio João Doria (PSDB-SP).
Pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2018, Alckmin tem alterado sua forma de divulgar projetos durante agendas oficiais. Desde o advento da “ameaça Doria”, o governador passou a anunciar, por exemplo, quantos empregos cada ação direta do governo ou via parceiros geram no Estado. A palavra renda também ganhou mais espaço no vocabulário do governador. Em outra frente, enquanto alguns de seus potenciais adversários privilegiam um discurso mais vinculado às teses do mercado, Alckmin tem dado mais espaço a programas sociais como Bom Prato, Creche Escola e projetos de habitação popular.
A estratégia está alinhada ao perfil do eleitorado que Alckmin deseja alcançar. Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, 80% dos eleitores que declaram voto no governador ganha até cinco salários mínimos.
Aliados de Alckmin projetam um cenário no qual Lula será barrado pela Justiça e o candidato apoiado pelo petista não passará do primeiro turno. Líder nas pesquisas, na faixa de 30% das intenções de voto, Lula seria o principal eleitor no segundo turno, segundo alckmistas. Com o movimento que pode identificá-lo com o centro, o governador espera atrair os votos do petista projetando uma imagem de “mal menor”. Por isso também Alckmin tem evitado assumir o discurso anti-Lula, na contramão do que faz Doria.
Para o coordenador nacional do Movimento PSDB Esquerda Pra Valer, Fernando Guimarães, Alckmin é o candidato com maior capacidade para aglutinar forças no segundo turno da eleição presidencial do próximo ano. “Do ponto de vista eleitoral, é uma vantagem. O governador é de fato um social democrata, sabe dialogar com o centro, centro-esquerda e até com a esquerda”, afirma Guimarães, que coordena hoje o que chama de a ala “mais progressista” do PSDB.
Para aliados do governador, no entanto, a posição de Alckmin não é propositadamente eleitoral. “Ele sempre seguiu essa linha, de investir no social. É natural ser visto dessa forma agora”, diz o secretário estadual da Habitação, Rodrigo Garcia (DEM-SP). Para Floriano Pesaro (PSDB-SP), que está à frente da secretaria de Desenvolvimento Social, as ações de Alckmin na área comprovam sua “preocupação com as pessoas”.
“Nesta semana mesmo (semana passada), ele nos autorizou a fazer mais três restaurantes (Araçatuba, Ribeirão Preto e São Bernardo do Campo) e em plena crise. Servimos comida de qualidade e a R$ 1. Também está fazendo um esforço pelo programa Creche Escola”, disse Pesaro.
Números oficiais mostram que os investimentos estaduais no programa alimentar cresceram de R$ 50 milhões, em 2014, para R$ 71 milhões neste ano.
Na semana passada, em meio ao polêmico anúncio feito por Doria de produzir e distribuir aos pobres um granulado nutricional feito a partir de sobras de alimentos – em ação criticada pelo Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo –, militantes tucanos pró-Alckmin começaram a compartilhar via WhatsApp notícias sobre o Programa Bom Prato, que comemora 17 anos. O comentário geral é que enquanto o governo serve pratos com arroz, feijão, salada, carne e fruta, Doria dá “ração humana”.
Já no caso do Creche Escola, os números ainda estão aquém do prometido: de 2011 pra cá foram entregues 265 unidades, quando a promessa, ainda na campanha de 2010, era concluir mil creches até 2014.
HABITAÇÃO. O cronograma de inaugurações previstas para ocorrer até abril do ano que vem, limite da descompatibilização do cargo para disputa de nova eleição, prevê a entrega de 38 mil moradias populares. Parte disso é resultado ainda de convênios assinados com o programa Minha Casa Minha Vida, dos governos petistas de Dilma Rousseff e Lula.
Diferentemente do que ocorre com algumas prefeituras do Estado, como São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e a própria capital, a relação do governo Alckmin com os movimentos populares é “estável”. Há mais de dois anos o governo tem uma relação próxima com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), comandado por Guilherme Boulos.
A postura de conciliador do governador ainda tem arrancado elogios públicos de petistas como Dilma e Fernando Haddad, além do governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B). Na semana passada, blogs e sites de inclinação petista saudaram a decisão de Alckmin de afastar o delegado que comandou uma operação de busca na casa de Marcos Cláudio, filho de Lula, por uso de drogas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário