Na avaliação de economistas, crise econômica obrigará candidatos a tratar de temas que foram ‘interditados’ em outras eleições
- O Estado de S. Paulo.
Ciro Gomes aposta em juros baixos e estatais fortes. Geraldo Alckmin quer ser o candidato da responsabilidade fiscal. João Doria bate na tecla das privatizações. Marina Silva fala em ajustes, mas acha o receituário de Michel Temer excessivo. Lula fala em crédito farto para incentivar o consumo. Jair Bolsonaro defende um Estado menor.
Os nomes mais fortes hoje na corrida ao Planalto testam discursos para o combate à crise, prevendo encontrar um eleitorado afoito por soluções que levem à volta do crescimento.
Ciro Gomes, por exemplo, indica já ter uma posição bem definida e tem girado universidades do País para apresentá-la. O ex-governador do Ceará e exministro da Fazenda, que pretende se lançar pelo PDT, se diz adepto do novo desenvolvimentismo. Defende redução dos juros para conter a dívida pública, incentivos às empresas nacionais e adota defesa do Estado forte, ao falar na retomada de campos de petróleo leiloados e reversão de eventual venda da Eletrobrás.
Ele mantém o ex-ministro e filósofo Mangabeira Unger como um de seus principais colaboradores. Recentemente, indi- cou apoio ao manifesto do economista Luiz Carlos BresserPereira que, entre outras coisas, condena as privatizações.
Já Marina Silva tenta se equilibrar na defesa do controle de gastos públicos ena manutenção de estatais como aPetrobr ás. Segue tendo no economista Eduardo G ian net tida Fonseca um de seus principais colaboradores.
Liderando pesquisas de intenção de voto, Lula tem levantado bandeiras como o uso de reservas internacionais do País para investimentos em infraestrutura e a realização de um referendo para revogar medidas de Temer, como a limitação para gastos do governo e a reforma trabalhista. O discurso, por ora, segundo admitem aliados, é mais uma peça política para mobili- zar a base eleitoral do petista do que uma proposta real de política econômica.
Ele tem se aconselhado com economistas da Unicamp, como Luís Gonzaga Belluzzo e Ricardo Carneiro, e antigos parceiros do governo PT, como os ex-ministros Guido Mantega, Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante. As conversas, sob coordenação de Márcio Pochmann, ocorrem de forma regular desde o ano passado, mas não têm objetivo de formar um programa econômico, diz Belluzzo.
Segundo aliados de Lula, o plano para a economia deve ser o último a ser formatado. O expresidente quer esperar os resultados do governo Temer e elaborar propostas em cima da “herança” do peemedebista, a depender dos resultados. O PT não quer repetir o erro de 1994, quando foi contra o Plano Real, diz um interlocutor de Lula.
Por ora, está descartada uma nova Carta ao Povo Brasileiro. Segundo Gilberto Carvalho, exministro da secretaria-geral da Presidência, os governos Lula deram provas suficientes de compromisso com a responsabilidade fiscal.
Ambiente renovado. Economistas de visão social-democra- ta e liberal apostam, porém, que a crise desgastou essa visão de País. “Antes, estávamos na subida da maré petista, com resultados do Estado grande e empresário. Agora, estamos vivendo a maior crise da história”, afirma Samuel Pessôa, do Ibre-FGV.
Presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica no primeiro mandato de Lula, Marcos Lisboa acredita que o debate eleitoral em 2018 estará aberto a temas antes interditados, como as privatizações e a redução do Estado.
“Há um reconhecimento do imenso fracasso nos últimos anos. A sociedade está mais aberta a políticas que enfatizem disciplina fiscal, focar em poucas áreas, como saúde e segurança. Ganha força na sociedade a abordagem que é mais próxima dos países da Europa Ocidental do que a da tradição do nacional-desenvolvimentismo do segundo governo Lula”, diz.
É nesse ambiente que pretendem surfar Alckmin, Doria, mas também candidatos neófitos como Jair Bolsonaro e João Amoe- do, do Novo, sigla que defende o Estado mínimo.
Emissários de Bolsonaro sondaram ao menos dois economistas de renome nos últimos meses, consultando-os sobre o interesse em se tornarem guru do ex-militar, segundo relatos dos abordados, que pediram reserva.
Lula, Marina Silva, Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro não quiseram dar entrevista sobre seus pensamentos econômicos. /
RENATA AGOSTINI, DOUGLAS GAVRAS E RICARDO GALHARDO
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