- Folha de S. Paulo
Após três anos nas profundezas da depressão econômica, submetida a choques políticos e noticiosos trepidantes, a sociedade brasileira parece ter entrado num período de certa "normalidade".
Como ocorre desde 1993, a um ano da eleição desponta nas pesquisas o nome no momento mais identificado com os pleitos redistributivos da parcela majoritária e mal remediada da população. Era Lula há 24 anos —depois substituído por FHC no correr da disputa. É Lula hoje.
Preocupações com as bases materiais da vida voltam a dominar os cálculos do eleitor. A corrupção chegou a ser citada por 37% dos entrevistados pelo Datafolha como o maior problema do país no auge da agonia de Dilma Rousseff, em março de 2016. Esse escore caiu à metade.
A cada dez eleitores hoje submetidos a essa consulta, sete apontam espontaneamente temas como saúde, educação, desemprego e violência. A excepcionalidade da Lava Jato e de seus filhotes talvez pudesse ajudar a eleger um presidente se a eleição ocorresse no ano passado. Em 2018, provavelmente não mais.
Quem quiser chegar lá precisará transmitir expectativa de prosperidade para as massas. Diante do esgotamento dos recursos públicos, da intolerância a mais impostos, da necessidade aritmética de reduzir gastos obrigatórios e do trauma do impeachment, o risco de vender-se na campanha algo impossível de cumprir será enorme.
Lula está disposto a correr esse risco, pois a retomada do poder tornou-se para ele questão de sobrevivência política e jurídica. A centro-direita, fragmentada num punhado de liliputianos afetados pela radioatividade de Temer, ainda não tem mensagem nem mensageiro para 2018.
A melhoria das condições de vida das pessoas nos próximos meses deve tornar o ambiente menos hostil para esse lado do tabuleiro. A ver se apenas a força da gravidade dará conta de equilibrar o jogo.
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