- O Estado de S. Paulo
Três coisas crescem na opinião pública brasileira: a desaprovação ao governo Temer, a desconfiança do consumidor e a intenção de voto em Lula. Mais do que correlacionados, são fenômenos que provocam uns aos outros e se realimentam. O ex-presidente melhora nas pesquisas, inclusive nas simulações de segundo turno, à medida que o ex-vice que ele escolheu para Dilma se consolida como o pior presidente já avaliado.
Ao mesmo tempo, a confiança do consumidor medida pelo Ibope para a CNI recua para o seu nível mais baixo desde que Temer chegou à Presidência. O que mais importa para os brasileiros pobres e remediados piorou: sua situação financeira, a expectativa de manter-se empregado ou arrumar emprego, o futuro de sua renda pessoal, seu endividamento e sua percepção sobre a inflação. Está tudo mais baixo do que estava um ano ou um mês atrás.
Se o pessimismo cresce, não espanta que o candidato mais identificado com a oposição a Temer e que inspira lembranças de tempos melhores para o consumidor acabe se destacando no Datafolha como líder em todos os cenários de primeiro e segundo turno para as eleições presidenciais de 2018. É a memória do bolso falando mais alto do que a indignação com as denúncias de corrupção. O que Moro faz para a imagem de Lula, Temer compensa.
Falou-se de tantas falcatruas, mostrou-se tantas malas de dinheiro sujo, revelou-se tantos grampos asquerosos que, pelo visto, o eleitor está ficando imune a novas denúncias. Se todos roubam – e essa é a impressão que fica -, a escolha do candidato a presidente pelo eleitor deixa de ser moral e politicamente correta para ser meramente pragmática e individualista: “Com quem eu eu ganho mais – ou melhor, com quem eu perco menos?”
Nesse cenário de cada um por si, quem foi contra as mudanças na legislação trabalhista e é contra mexer nas regras da Previdência leva vantagem sobre quem as defende. Se o eleitor está pensando apenas em si, fica muito mais difícil vender a ideia de que o bem comum demanda sacrifícios individuais. Ainda mais quando o sacrificado é submetido diariamente a um show de horrores com o dinheiro público, no qual todos parecem se locupletar, menos ele. “Farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Temer é o maior cabo eleitoral da oposição. Se permanecer no cargo até a eleição (a parcela de deputados a quem ele paga aluguel garante isso), o presidente será o Judas a ser malhado na urna. Faz bem Alckmin de se descolar de Temer e tentar puxar o PSDB junto. Não repete o erro estratégico de Doria, que, após precipitar-se como candidato presidencial, se aproxima cada vez mais do grupo governista dos tucanos, em busca de legenda.
Mas a taxa de desemprego não está caindo? A recessão não está acabando? Há enorme diferença entre as estatísticas oficiais e a sensibilidade da população. O fato de alguém deixar de ser classificado como desocupado não significa que tenha conseguido o emprego dos sonhos – até porque há cada vez menos bons empregos. A ocupação informal é melhor do que nada, mas não basta para transformar o novo ocupado em fã do governo.
Não há registro de presidente tão mal avaliado quanto Temer. Nem Sarney, nem Collor, nem Dilma. Mesmo assim, entusiastas de uma candidatura do ministro Henrique Meirelles acham que ele pode repetir o que FHC fez em 1994. É duro. O Plano Real tirou um enorme e mal-cheiroso bode da sala ao acabar com a inflação. Do dia para a noite, tudo melhorou. Agora, quase ninguém percebe que o bode está se movendo – e seu cheiro é cada vez pior.
Se Lula não puder ser candidato, seu terço do eleitorado tende a se dispersar. Mas não migrará para um candidato governista.
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