domingo, 12 de novembro de 2017

Alberto Goldman / Entrevista: ‘O PSDB tem imperadores e não decisões coletivas’

Alçado ao comando do PSDB numa jogada do senador Aécio Neves, Alberto Goldman se propõe a trabalhar pela unidade entre os tucanos e alerta que é um risco para o partido uma disputa entre chapas na eleição para o diretório nacional

“O PSDB não morreu. Tanto está vivo que é assunto da imprensa todo dia”

Silvia Amorim / O Globo

• O senhor anunciou uma comissão eleitoral para buscar pacificar o PSDB. Qual a garantia de que vai funcionar?

Só haverá garantia se todos compreenderem que é impossível ter uma disputa entre chapas para o diretório nacional. Temos que acertar um diretório único.

• Diante da profunda divisão tucana, não soa irreal o discurso de construção de unidade entre as candidaturas para presidente de Tasso Jereissati e Marconi Perillo?

Temos um mês pela frente. Podemos dizer que, vencida a primeira etapa, que é a composição do diretório, fica metade do caminho andado para um acordo para a Executiva.

• Há um ano o partido está mergulhado em crises. Um mês é tempo suficiente para buscar o entendimento?

Sim.

• Alguma possibilidade de antecipação ou adiamento da convenção?

Isso não está no horizonte.

• O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu o governador Geraldo Alckmin como a via pacificadora à presidência do PSDB e pediu a sua ajuda. O que vai fazer?

Vou procurar a convergência. Ponto.

• O senhor conversou com Alckmin assim que assumiu. Perguntou se ele está disposto a dirigir o PSDB?

Não perguntei. Nem acho que é o momento de perguntar isso.

• Alckmin é seu candidato à Presidência da República?

Meu candidato será aquele que o partido escolher.

• Episódios recentes colaram no PSDB o rótulo do fisiologismo e caciquismo. Há avaliações de que a sigla vem se tornando um PMDB. É isso?

Discordo. Interesses pessoais existem em todos os partidos no mundo todo. Não é um privilégio do PSDB. O PSDB não morreu. Tanto está vivo que é assunto da imprensa todo dia.

• A atitude do senador Aécio Neves de destituir Tasso Jereissati da presidência do partido foi mais uma manifestação desses interesses pessoais se sobrepondo às questões nacionais?

Não foi o que ele (Aécio) disse, e acredito nele. Havia uma disputa interna, e ele queria uma condição equilibrada para a escolha do próximo presidente.

• Parece não ter dado certo, porque a divisão interna aumentou.

Não. A decisão vai na direção de buscar convergência.

• Aécio e o senhor foram acusados por colegas de agir a mando do governo Michel Temer na destituição do Tasso.

É molecagem. Não merece resposta.

• O senhor já escreveu que o PSDB deixar o governo não seria responsável com o país. É o discurso da ala governista tucana. Continua contra o desembarque?

Não tenho ala. Tenho cabelo preto tingido de branco (risos). Não colocarei neste momento minha opinião, porque não ajuda o partido. Há discussões objetivas a serem feitas. Como aprofundamos a democracia e retomamos o crescimento econômico e social? É o que interessa a 200 milhões de brasileiros.

• Fernando Henrique Cardoso e outras lideranças já alertaram que os desgastes políticos podem custar caro ao PSDB em 2018 e apontam a permanência no governo como uma das razões para isso.

Isso já foi discutido duas vezes. Mas parece que vai seguir sendo permanentemente. O país não está preocupado com isso.

• Com que credibilidade o partido se apresentará como solução ao país se não consegue arrumar a própria casa?

Tudo começa com uma mudança importante. O partido precisa ter uma direção coletiva. Não pode ser individual. O PSDB tem tido imperadores e não direções coletivas.

• Suas diferenças com o prefeito João Doria foram superadas?

Já tenho muito com o que me preocupar agora, não? Já dá para me ocupar o tempo.

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