domingo, 12 de novembro de 2017

Ruína tucana – Editorial: Folha de S. Paulo

Depois de ensaiar algumas vezes sua ruptura com o governo Michel Temer (PMDB), sem chegar a conclusão nenhuma, o PSDB se encontra agora na situação irônica de ver considerada como oportuna, pelo próprio Planalto, a dispensa dos seus serviços ministeriais.

É o que indicam, ao menos, as notícias de bastidores de Brasília. Segundo reportagem desta Folha, o presidente já não se empenha tanto em manter os tucanos na administração federal, em nome da paz em sua coalizão.

Ele já terá desistido, a esta altura, de acompanhar os crônicos vaivéns e conflitos internos do partido —cujos 46 deputados só lhe renderam 20 votos contra a segunda denúncia criminal encaminhada pela Procuradoria-Geral da República.

Antes de qualquer decisão presidencial, no entanto, o PSDB tratou de aprofundar sua crise na quinta-feira (9), quando o senador Aécio Neves (MG), da ala pró-Temer, destituiu seu colega e oponente Tasso Jereissati (CE) da presidência interina da legenda.

Já é espantoso que o político mineiro, flagrado em conduta indefensável, não tenha se retirado de cena por iniciativa própria ou de seus correligionários. Que ainda preserve tamanha influência dá ideia de quanto os tucanos podem tolerar desmandos gritantes.

Alegando ter solicitado nada mais que empréstimos pessoais e ter proposto nada além da venda de um apartamento a Joesley Batista, da JBS, Aécio Neves prossegue incólume no cargo, no partido e nas suas frágeis explicações.

Como resultado de suas notórias hesitações, o PSDB desperdiça a chance de encenar alguma indignação e independência política.

Reforça tão somente a imagem de que nem mesmo no oportunismo e na fisiologia se mostra firme em seus propósitos —e de que nem mesmo na hipocrisia moralista consegue forças para manter a máscara presa ao rosto.

Não é outro o efeito, aliás, da série de episódios constrangedores em que se encontrou envolvido nos últimos tempos.

De menor gravidade, mas ilustrativo, foi o disparatado protesto da ministra Luislinda Valois, dos Direitos Humanos, comparando-se a uma vítima da escravidão. Lutava pelo direito, demasiado humano, de acumular seus proventos acima do teto remuneratório estabelecido para o serviço público.

Enquanto isso, uma estrela ascendente do partido, a deputada Shéridan Oliveira (RR), conhece as primícias de ser alvo de denúncia da Procuradoria-Geral da República, por compra de votos.

Dividido entre suas figuras luminares e seus nomes turvos, entre mensaleiros e donzelões, o PSDB periga naufragar —e, humilhação suprema, nem mesmo Temer faz mais questão de sua companhia.

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