Em convenção mineira do partido, senador nega fisiologismo do PSDB
Raquel Ayres / Globo
BELO HORIZONTE — O senador Aécio Neves (MG), presidente afastado do PSDB, reconheceu neste sábado, pela primeira vez, que o destino do partido é deixar o governo do presidente Michel Temer. O tucano pertence ao setor da legenda mais alinhado ao Palácio do Planalto. A afirmação foi feita durante a convenção estadual da sigla em Minas Gerais, que reconduziu o deputado federal Domingos Sávio, aliado do senador, ao comando do PSDB local. Na quinta-feira, Aécio havia destituído o senador Tasso Jereissati (CE), que defende o rompimento com o governo Temer, da presidência interina do partido. O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman assumiu o posto.
Aécio classificou o embate entre os tucanos que defendem a saída do governo e aqueles que resistem à ideia de uma “falsa discussão”. O PSDB ocupa quatro ministérios: Secretaria de Governo (Antônio Imbassahy), Cidades (Bruno Araújo), Relações Exteriores (Aloysio Nunes) e Direitos Humanos (Luislinda Valois). A divisão do partido ficou clara nas votações das duas denúncias contra Temer na Câmara dos Deputados, ocasiões em que a bancada não se posicionou de forma coesa
— Há um convencimento de todos nós de que está chegando o momento de nossa saída — afirmou o senador tucano.
Segundo Aécio, a continuidade do PSDB como base de apoio ao governo Temer não se dá por fisiologismo, mas por apoio ao processo de transição decorrente do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
— Sairemos pela porta da frente, da mesma forma como entramos. Nosso apoio é em torno da agenda de reformas — declarou o mineiro.
Aécio afirmou que, a partir de consenso interno, uma data será definida para que o PSDB deixe o governo. Para o senador, a possível saída da sigla do governo é fruto do momento, já que o PSDB terá candidato nas próximas eleições.
— A saída do governo deve ser definida rapidamente pelos nossos candidatos e ministros, mas não trazemos esta falsa discussão para a convenção — declarou Aécio.
Perguntado sobre sua candidatura para 2018, Aécio afirmou que, sem dúvida, estará nas urnas, mas não deixou claro qual papel irá desempenhar:
— No momento, meu papel é de fortalecer o partido, também de ajudar Minas — destacou ao ser perguntado sobre nova candidatura ao Senado ou ao governo de Minas Gerais.
CRÍTICA AOS CABEÇAS PRETAS
Não há dúvida de que Aécio desembarcou em Minas, pela primeira vez para um compromisso político no estado após os áudios da JBS virem à tona, para retomar o lugar de liderança no PSDB, dado o tom de sua fala a respeito das atuações dos grupos identificados internamente como "cabeças brancas" — os tucanos tradicionais, fundadores do partido — e os chamados "cabeças pretas" — jovens políticos como o deputado Daniel Coelho (PE), candidato à prefeitura de Recife nas eleições de 2012 e que contou com o apoio do senador mineiro. Vale lembrar que Coelho, hoje, faz parte do grupo de apoio a Tasso Jereissati.
— Não vejo o mesmo ímpeto de alguns chamados "cabeças pretas" em defenderem a saída abrupta, pirotécnica do governo, para defenderem as reformas, em especial a da Previdência — declarou o senador.
DESTITUIÇÃO DE TASSO EM PAUTA
Na convenção estadual realizada neste sábado, o PSDB de Minas reconduziu o deputado federal Domingos Sávio à presidência da sigla no estado. Como havia uma única chapa, a manutenção do parlamentar no comando dos tucanos mineiros é fruto de consenso. No encontro, Aécio voltou a se manifestar sobre a destituição de Tasso Jereissati do comando do partido.
— Ao indicar Tasso à presidência interina do partido o fiz porque ele não era candidato à reeleição. A partir do momento em que ele mudou de opinião, e é legítimo que o faça, o que me parecia natural, ético e correto era que se afastasse para que houvesse isonomia para a disputa. Ele não o tendo feito, assumi esta responsabilidade. E no momento em que o senador Tasso assume sua candidatura, tomei a decisão de indicar alguém acima de qualquer suspeita, cuja imparcialidade é reconhecida por todos — afirmou Aécio, referindo-se à indicação do paulista Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, para assumir interinamente a presidência do PSDB até dezembro, quando será realizada a Convenção Nacional.
Os deputados federais do PSDB que fazem parte do grupo conhecido como "cabeças pretas" criticaram a destituição de Tasso. O deputado Daniel Coelho afirmou que a medida foi uma “intervenção de Temer”. Os aliados de Tasso se reuniram com ele em seu gabinete.
“Aécio acaba de destituir Tasso da presidência do PSDB. Vergonha!!!!! Intervenção de Temer e aliados”, publicou o parlamentar em sua conta no Twitter. “Tasso não se curvou a Temer, Aécio, Bruno Araújo e outros, foi chutado. Vergonha!!!!! Nojo!!!!!”, acrescentou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário