- Folha de S. Paulo
Luciano Huck renegou o canto da sereia presidencial que o atraía; ao menos "neste momento". Está aberta a vaga para ser a cara do novo em 2018. O eleitor brasileiro quer o novo, exige o novo, e a política que se vire para entregar, ou convencer de que entregou.
João Dionísio Amoêdo, do Partido Novo, é inquestionavelmente novo. Nunca se candidatou e traz bandeiras que o Brasil nunca encampou: Estado enxuto e eficiente, livre mercado. Marina chega propondo uma nova política, longe da mera troca de interesses. Isso também é novo.
É difícil encontrar algo novo na candidatura do deputado Jair Bolsonaro, militar corporativista, mas é assim que ele é percebido por quem o apoia. E, de fato, representa uma negação frontal da sujeira e da ideologia da velha política nacional. Também é novo.
O desejo pelo novo vem em duas versões. A primeira é a da renovação, que parece acreditar que, com pessoas bem-intencionadas, as divisões ideológicas acabam e tudo será resolvido no diálogo construtivo. A segunda é a da negação: também sonha com o fim das divisões, mas busca suprimi-las pelo ato da vontade de um líder virtuoso.
A busca do novo parte da rejeição ao velho, disfuncional, e essa também tem dois aspectos. Um deles é a rejeição à corrupção e ao fisiologismo puro. Até aí, todos concordamos. O outro, mais questionável, é rejeitar a própria ideia de fazer política: chegar a acordos em meio a conflitos reais. Ou seja, algo diferente tanto da discussão racional que parte de premissas partilhadas quanto da imposição de uma visão única. Intelecto puro e vontade pura substituiriam as habilidades próprias da política, que ocupam um meio do caminho.
Por isso é tão difícil aceitar Lula ou Alckmin como novos, e Bolsonaro ou Marina não. Mas tenho certeza de que todos encontrarão um jeito de se pintar de "novos" também. Até o PMDB. É o que o povo quer.
"Novo" e "velho" são construções retóricas. Qualquer projeto tem aspectos que podem ser considerados novos e velhos. Jogar a Presidência nas mãos de um jovem paladino da modernidade e da ética; negar as tramoias do Congresso em nome de uma guinada autoritária. Haverá algo mais velho do que isso?
O critério para julgar um político ou partido não é uma preferência temporal, e sim sua capacidade de fazer as mudanças para que vivamos melhor. E dado que, na falta de um milagre, o Brasil seguirá sendo um país de interesses muito contraditórios, não há novidade que possa abrir mão da capacidade dos políticos velhos.
Isso começa na eleição. Ilude-se quem acha que teremos um Congresso fundamentalmente diferente –nas ideias ou nas práticas– em 2019. Tempo de TV, alianças, estrutura partidária, cabo eleitoral, recall; tudo isso segue tendo importância fundamental, ainda que a gritaria das redes sociais às vezes nos faça esquecer.
Quem espera tudo novo há de se decepcionar. Esse anseio por uma política brasileira radicalmente diferente dependeria de um Brasil radicalmente diferente, e isso simplesmente não vai acontecer. Mas se o presidente eleito souber unir uma visão nova, moderna, com as virtudes da velha política, se colocar o Brasil nos trilhos, se souber pautar o Congresso e botar a locomotiva para funcionar, será muito bom. O que, a julgar pela qualidade dos últimos governos, não deixa de ser algo novo.
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