O biênio 2017/18 tem chance de ser o marco da recuperação do país, a depender da Previdência e das eleições
Assim como o biênio 2015/16 foi trágico, o da maior recessão registrada em estatísticas oficiais — aproximadamente 8% de queda de PIB; 14 milhões de desempregados no ponto mais baixo da retração; perda de renda per capita de 10% etc. —, o de 2017/18 pode ser de redenção.
Ao menos, a metade do caminho, 2017, foi percorrida de maneira que parecia impensável em fins de 2016, e principalmente no final do primeiro semestre, em maio, quando a Procuradoria-Geral da República recebeu do empresário Joesley Batista a gravação feita pelo próprio, divulgada pelo GLOBO, de conversa dele com o presidente Michel Temer, nos porões do Palácio do Jaburu, em que o presidente se revela conhecedor de inaceitáveis transações, sem reagir como deveria. O presidente não se indignou ao saber que o sócio controlador da JBS corrompia pelo menos um procurador e um juiz; incentivou-o a continuar comprando o silêncio de Lúcio Funaro e Eduardo Cunha, e ainda indicou Rocha Loures como homem de confiança para tratar de assuntos, digamos, delicados, na ausência do indefectível Geddel Vieira. A cena seguinte foi a patética corridinha de Loures, por uma rua de São Paulo, com uma maleta em que estavam R$ 500 mil entregues a mando de Joesley. A ligação da maleta com Temer foi radioativa para o governo.
Temer, porém, sobreviveu no Planalto, à custa de muito fisiologismo. A proposta integral da reforma estratégica da Previdência, devido aos danos políticos sofridos pelo presidente, teve de ser reduzida a um mínimo que conceda algum tempo ao próximo governo para avançar num ajuste mais profundo no sistema previdenciário, a locomotiva do déficit público.
As perspectivas para a economia se degradaram na virada do semestre, a ponto de a possibilidade de o PIB ter crescido algo como 1% em 2017 chegar a ser fato heroico. No último boletim semanal Focus do ano, produzido pelo BC com projeções de analistas do mercado financeiro, estima-se em 0,98% a expansão da economia. O gráfico ao lado mostra como as estimativas do mercado foram melhorando passo a passo, no decorrer do ano, reflexo da melhoria da percepção dos analistas.
A recuperação convive com uma inflação apenas usufruída pelos brasileiros nos bons momentos posteriores ao lançamento de planos econômicos, como o Cruzado e o Real. Tanto que algo inédito poderá acontecer: o presidente do BC (Ilan Goldfajn) ser obrigado a se justificar, em carta, ao ministro da Fazenda, por que a inflação de 2017 não atingiu a meta. No caso, terá ficado abaixo do limite inferior dela, 3% (a mediana das expectativas, no relatório Focus, é de 2,78%). Um ponto muito fora da curva no histórico brasileiro de inflações altas — muito por desvios ideológicos de governantes, como na era do lulopetismo.
O exercício de projeções para 2018, feito no final do ano, continua a vislumbrar um cenário econômico sob controle: a inflação nas rédeas, de 2,98%, e até abaixo do centro da meta de 4,5%, e uma expansão do PIB de quase 3%, ótimo resultado se comparado com dois anos de recessão profunda. Porém, o déficit público continua sem controle.
Estimativas como estas podem ser consideradas futurologia estéril, porque, de hoje a dezembro, haverá uma eleição-chave para o Brasil, em que pode haver dois caminhos opostos: do nacional-populismo e do retrocesso; e o da democracia representativa e da continuidade das reformas.
O biênio 2016/17 pode ser parte de uma história exemplar de superação da sociedade brasileira, ou não. Neste enigma, a reforma da Previdência, a ser votada em fevereiro, é crucial. Pois dela depende a estabilidade do país.
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