Avanço da extrema-direita nas eleições alemãs e fim da coalizão com os sociais-democratas exigirão da chanceler novas coligações no Bundestag para governar
Com 33% dos votos (246 cadeiras), a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, conquistou o quarto mandato para dirigir o país. A vitória, porém, teve gosto amargo: foi o pior resultado desde 1949, ficando 8,5 pontos percentuais abaixo das últimas eleições, em 2013. Mas a água no chope de Merkel veio da extrema-direita, representada pela Alternativa para a Alemanha (AfD), que, com 12,6% dos votos, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, conquistou representação (94 assentos) no Bundestag, o Congresso alemão, de 709 cadeiras.
Para complicar as coisas, o Partido Social Democrata (SPD), segunda maior força eleitoral e principal aliado do CDU na coalizão governista, amargou uma derrota humilhante, obtendo apenas 20,5% (153 cadeiras) dos votos (queda de 5,2 pontos em relação a 2013), o que levou seu líder, Martin Schulz, a anunciar o rompimento da aliança com Merkel. Assim, a chanceler terá que buscar em outras agremiações, como os verdes, uma composição mínima para poder governar o país. Segundo analistas, ao compor com Merkel, o SPD viu sua identidade partidária diluída, numa espécie de simbiose difícil de distinguir entre eles e o CDU.
As demais agremiações com assento no Bundestag são: a esquerda (9,2%), o Partido Liberal Democrático (FDP, com 10,7%) e o Partido Verde (8,9%). A cláusula de barreira para obter representação no Parlamento alemão é de 5%. Sem os sociais-democratas, restará ao CDU uma coalização com os verdes e os liberais, aliança que foi batizada de “Jamaica”, devido às cores das agremiações serem as mesmas deste país.
Já o sucesso da AfD veio da mudança da retórica de campanha, da luta pela saída da União Europeia (UE) para um programa xenófobo anti-imigração e anti-islã. O partido prometeu caçar Merkel, porém, é bastante fragmentado e enfrenta disputas internas importantes, como se viu na entrevista coletiva em que Frauke Petry, considerada uma voz mais moderada, classificou o AfD como “anárquico” e incapaz de estabelecer uma plataforma de governo.
O avanço da extrema-direita coloca desafios não só à Alemanha, mas também à UE. A unidade do bloco se sustenta na firmeza de Merkel como principal defensora de uma agenda de integração global, num momento em que os EUA de Trump se isolam. O resultado do pleito alemão também eleva a importância do presidente francês, Emmanuel Macron, como parceiro de Merkel ante os desafios à UE, como o avanço de nacionalistas (como o húngaro Viktor Orban); a ameaça de Putin sobre o Leste europeu; e o Brexit.
Para Merkel, só há um caminho: aprofundar a UE, fortalecendo suas instituições e repartindo os benefícios que começam a aparecer com a recuperação da economia global. E Merkel ainda é, apesar de tudo, a principal voz europeia, e possui a legitimidade para levar adiante as medidas necessárias para estabilizar o continente.
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