Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico
SÃO PAULO - Pesquisas realizadas nos últimos meses pelo Datafolha e pelo Ibope ajudam a dimensionar a crescente preocupação dos brasileiros com a segurança, a insatisfação com políticas públicas do setor e o apelo popular que o tema desperta. Na sexta, em ato inédito desde a redemocratização, o presidente Michel Temer decretou intervenção federal na área de segurança do Rio. Um general foi designado interventor. Os resultados dos levantamentos mais recentes sugerem que ações excepcionais desse tipo - em especial as que envolvem as Forças Armadas - podem ter relevante impacto eleitoral.
Conforme o Ibope, a preocupação dos brasileiros com violência e segurança dobrou no intervalo de um ano. A constatação foi feita pela pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, realizada sempre em dezembro por encomenda da Confederação Nacional da Indústria. No fim de 2016, 19% dos brasileiros citavam a área no rol das mais problemáticas do país. Foi o quarto tema do ranking, atrás de desemprego, corrupção e saúde. Na pesquisa mais recente, violência e segurança continua em quarto lugar, mas as citações saltaram para 38%. Nos dois casos, foram ouvidas 2 mil pessoas, com margem de erro de dois pontos.
Na primeira pesquisa, o Ibope perguntou a cada entrevistado se ele ou alguém da família havia sido vítima de furto, assalto ou agressão nos 12 meses anteriores. Quase metade dos moradores das regiões Norte e Centro-Oeste responderam que sim (46%). No Nordeste, o sim alcançou 44%. Sudeste e Sul registraram 37% e 31%, respectivamente.
Com outra abordagem, um estudo nacional do Datafolha com 2.087 entrevistas em março de 2017 encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública confirmou como a questão está presente no dia a dia da maioria.
"Você diria que a chance de existir crime organizado ou facção na sua vizinhança é alta, média baixa ou nenhuma?", perguntaram os entrevistadores. De cada dez consultados, sete indicaram que percebem a presença do crime organizado ou de facções no entorno da residência: 23% responderam que a chance é alta; 26%, média; 24%, baixa. Apenas 23% assinalaram que a chance é nenhuma.
Em outubro passado, o mesmo Datafolha fez uma pesquisa específica sobre o tema segurança no município do Rio. Constatou que o desempenho do governo estadual na área é considerado ruim ou péssimo por 74%. A soma de bom e ótimo ficou em 5%.
O levantamento sugeriu que a atuação das Forças Armadas na área vem carregada de forte esperança. Na cidade, 83% manifestaram apoio à convocação do Exército "para combater a violência nas ruas do Rio".
Em relação às polícias militar e civil, o sentimento é oposto. Para 67%, a PM desperta mais medo do que confiança. No caso do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), notório por ações violentas, 65% responderam dessa forma. Em relação à Polícia Civil, a taxa foi de 55%. Mais: Para 34%, "a maioria dos policiais está envolvida em casos de corrupção". Para 55%, "muitos" estão.
Com tudo isso, apurou o Datafolha, 72% dos cariocas disseram que, se pudessem, mudariam do Rio por causa da violência.
Foram 812 entrevistas, com margem de erro de quatro pontos.
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