O quadro de recuperação da economia nacional fica mais claro, e quase completo, com a reação do setor de serviços, ainda lenta e restrita. No Brasil, a evolução dos serviços normalmente reflete, com algum atraso, o avanço da indústria, da agropecuária e do comércio de bens. O setor tem grande peso na composição do Produto Interno Bruto (PIB), mas seu vigor depende do dinamismo dos demais. Em outros países, segmentos como turismo, finanças, call centers e transportes, para citar alguns exemplos bem conhecidos, têm vida própria e são geradores importantes de receita em moeda estrangeira. Podem prosperar mesmo quando outras áreas de atividade vão mal. Não é, pelo menos até agora, o caso do Brasil, onde a produção material se mantém como a principal fonte de movimento e vigor para todo o sistema.
Essa dependência foi confirmada com muita clareza no ano passado. Só o segmento de transportes fechou o ano com desempenho melhor que o do ano anterior – crescimento de 2,3% em relação ao resultado de 2016. Esse resultado foi uma clara consequência do aumento da produção da indústria e da agropecuária, da expansão do comércio interno e do avanço das exportações.
Os demais segmentos tiveram desempenho mais fraco, embora com tendência de melhora, especialmente nos meses finais de 2017. Em dezembro, a produção do setor de serviços foi 1,3% maior que a de novembro e 0,5% superior à de dezembro do ano anterior. Em 12 meses, no entanto, a produção acumulada foi 2,8% menor que a de 2016. Mesmo esse resultado, no entanto, foi o mais animador depois de 2014, quando o volume produzido cresceu 2,5%. Em 2015, a perda foi de 3,6%. Em 2016, de 5%.
A mera diminuição do ritmo de queda já poderia ser vista como um dado positivo, mas houve mais que isso. Embora só o segmento de transportes tenha fechado o ano com crescimento acumulado em 12 meses, sinais claros de reação surgiram em outras áreas, nos meses finais de 2017.
Do terceiro para o quarto trimestre, o setor de serviços cresceu 0,2%, com expansão nos segmentos de transportes (0,9%), de informação e comunicação (0,7%) e de “outros serviços” (0,2%). Houve estabilidade nos serviços prestados às famílias e queda de 0,1% nos serviços profissionais e administrativos. Na comparação com o trimestre final de 2016 só o segmento de transportes apresentou resultado positivo (ganho de 6,7%).
Os consumidores obviamente concentraram na compra de bens materiais sua disposição de gastar. O aumento dessa disposição, indicado tanto por numerosas sondagens como pelo maior movimento do comércio varejista, é atribuível à combinação de alguns fatores muito importantes. Depois de ter superado a taxa anual de 10% na passagem de 2015 para 2016, a inflação recuou seguidamente. No fim de 2017, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou uma alta de 2,95% em 12 meses.
A redução progressiva dos aumentos protegeu a renda real das famílias, preservando seu poder de compra. Além disso, o recuo do custo da alimentação, um importantíssimo componente do gasto mensal, abriu algum espaço para compras de outros tipos de bens.
Um segundo fator muito importante foi o aumento do crédito às pessoas físicas. Isso possibilitou despesas com bens duráveis de consumo, geralmente mais caros que os de outras categorias, como alimentos, produtos de higiene e beleza e roupas.
Um terceiro fator foi a criação de empregos. Oportunidades de trabalho foram multiplicadas, embora a desocupação tenha permanecido na faixa de 12% durante a maior parte do ano. Com maior segurança quanto à subsistência, as famílias voltaram às compras, de início com muita cautela. Além de crescer em volume, o consumo se alterou de forma qualitativa, com o retorno às compras de bens, mesmo de uso diário, mais sofisticados.
Se a economia crescer mais velozmente, como se prevê, e as oportunidades de trabalho continuarem aumentando, os consumidores deverão voltar-se também para os serviços, tornando mais homogêneo o avanço de setores e atividades.
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