Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - A crise de segurança no Rio, com o decreto de intervenção federal, pode mexer com algumas peças no ainda confuso tabuleiro político-eleitoral fluminense. O MDB, cujos governos Pezão e do antecessor Cabral são responsáveis pela anomia em que o Estado se encontra, terá que repensar o plano de lançar ao Palácio Guanabara o jovem secretário estadual de Assistência Social, Pedro Fernandes, de 34 anos de idade. Ele é a alternativa ao ex-prefeito Eduardo Paes, cuja saída do partido é dada como certa, para evitar o desgaste da imagem do MDB.
A intervenção federal imprime o carimbo de fracasso total da política de segurança de Pezão, que culminou com a onda de violência no Carnaval. Qualquer candidato do MDB sairá em desvantagem, ainda que tente se vender como algo novo. O secretário e deputado estadual licenciado é filho da vereadora Rosa Fernandes, uma chefe política tradicional com reduto no Irajá. Tem o mesmo nome do avô, que exerceu dez mandatos na Assembleia Legislativa.
Junta-se aos outros filhos de caciques emedebistas, Leonardo Picciani e Marco Antônio Cabral, que passaram a comandar o partido depois que os pais, o ex-presidente da Assembleia Jorge Picciani e o ex-governador Sérgio Cabral, foram presos por corrupção. A nova geração tem o DNA da velha. Pertencer ao MDB será tóxico para qualquer candidato a governador. Ou a deputado.
E é por isso que a intervenção federal também pode ser compreendida como uma jogada política e partidária. Trata-se da oportunidade de o MDB nacional, sob o ponto de vista eleitoral, separar sua imagem - que não é nada boa - da imagem do MDB do Rio, que é péssima. Se for bem-sucedida, a decisão de Temer, aponta um político fluminense, atenderia dois supostos objetivos do homem de confiança do presidente, o ex-governador do Rio e ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.
Primeiro, o de recuperar minimamente a reputação do MDB para que possa se eleger deputado federal. Isso lhe garantiria o foro privilegiado para manter as investigações da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal pelos próximos quatro anos, quando não for mais ministro. Em segundo lugar, a operação federal teria o condão de acossar os caciques e clãs enfraquecidos do MDB do Rio - famílias Picciani e Cabral à frente - a ponto de derrubá-los do comando da legenda. O desdobramento da intervenção federal seria a intervenção partidária - algo que foi cogitado na época em que Jorge Picciani, fiador do governo Dilma, resistia a apoiar o impeachment que levaria Temer, Moreira e Cia. ao Planalto.
No campo eleitoral, a intervenção faz com que a segurança pública cresça ainda mais de importância como assunto de campanha e possa superar a saúde e o tema da recuperação fiscal, que está no fundo de toda a crise. Nesse cenário, pode-se imaginar que a candidatura do vereador e ex-prefeito Cesar Maia (DEM) perca tração. O forte no discurso de Maia, economista de formação, seria a reorganização das contas públicas. Logo, isso também não é bom para as pretensões do filho e presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), cotado para a corrida presidencial.
Com apenas 1% nas pesquisas, Rodrigo não escondeu a contrariedade com a decretação da intervenção federal, embora tenha se alinhado em seguida ao discurso de Temer. A candidatura de Cesar a governador é vista mais como um desejo do filho do que do próprio pai. Tudo que ajudá-la favorece os planos de Rodrigo, sejam nacionais ou estaduais, como a necessidade de fortalecer a chapa proporcional, se eleger com folga e fazer uma boa bancada de deputados que reforce sua liderança no DEM e para a reeleição à presidência da Câmara.
A ascensão da segurança pública como grande assunto da disputa eleitoral tem outro efeito: tradicionalmente favorece o discurso da lei e da ordem tão caro à direita. Na esquerda, a candidatura do diplomata e ex-chanceler Celso Amorim, pelo PT, pode perder fôlego em relação à da ex-delegada e deputada Martha Rocha (PDT), também cotada para o Senado.
Nesta disputa, aliás, o clã militar está tão otimista que o presidenciável Jair Bolsonaro - que migrará para o PSL - já cogita lançar os dois filhos, o deputado estadual Flávio e o vereador Carlos, às duas vagas que estarão em jogo. Quanto à eleição a governador, porém, Bolsonaro, estrategicamente, tende a não ter candidato para não prejudicar suas chances como presidente da República.
A intervenção federal e militar no Rio, no entanto, já colocará a agenda do ex-capitão à prova. A presença das Forças Armadas por tanto tempo, dez meses, é uma incógnita. Pode passar uma sensação de segurança maior à população, mas, como sempre, ser um paliativo que está longe de atingir as causas do problema quando se vê patrulhas e camburões caindo aos pedaços nas ruas do Rio de Janeiro.
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