Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - O governo Michel Temer decidiu ser protagonista na eleição e dentre as medidas que vem adotando a mais popular - e a de mais alto risco - é a intervenção na segurança pública do Rio. Enquetes feitas na internet mostram que, pelo menos no primeiro momento, a população aplaudiu. A reforma da Previdência foi sacrificada.
Na realidade, a intervenção foi conveniente. Com o descontrole da segurança no Rio, o próprio governador do Estado lavou as mãos. O governo só precisou coragem para implementar uma medida que, se tiver sucesso, vai beneficiá-lo. Ele assume a bandeira da segurança que hoje tem um dono - o deputado Jair Bolsonaro, segundo colocado nas pesquisas. Não foi por outro motivo que Bolsonaro foi um dos primeiros a condenar acidamente a decisão.
A solução para a segurança do Rio não se dará do dia para a noite, mas a situação é tão dramática que até uma mudança cosmética pode ter efeito. Pode não beneficiar eleitoralmente Temer, mas um candidato da situação. Na aliança sonhada no Planalto, liderada pelo MDB, cabem DEM, PP, PR, PTB, PRB e semelhantes.
Reforma perde para chances de reeleição
No tabuleiro da sucessão, o presidente Michel Temer sacrificou a reforma da Previdência por uma possível candidatura à reeleição. Não está nos planos do governo suspender a intervenção federal no Rio de Janeiro para votar a proposta. A menos que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, em algum momento diga o contrário do que até agora tem afirmado: 'Há votos suficientes para aprovar'.
A intervenção no Rio de Janeiro também reduz as possibilidades da candidatura presidencial do ministro Henrique Meirelles (Fazenda). Não há espaço para duas candidaturas no campo governista em disputa. O governo, evidentemente, não assume o caráter eleitoral da medida. "É uma decisão de política pública", diz o ministro Moreira Franco, da Secretária-Geral da Presidência, um dos principais articuladores da intervenção no Palácio do Planalto.
Na realidade foi conveniente. Com o descontrole da segurança no Rio, o próprio governador do Estado lavou as mãos. O governo só precisou coragem para implementar uma medida que, se tiver sucesso, vai beneficiá-lo.
Antes de intervir no Rio, o presidente Temer foi a Roraima tratar da crise humanitária provocada pela fuga em massa de venezuelanos pela fronteira brasileira. O presidente pode tomar outras medidas de impacto. A comunicação do Planalto está empenhada a fundo na tarefa de realçar a figura presidencial de Michel Temer, e com isso ir atrás dos pontos de aprovação nas pesquisa que faltam para o presidente viabilizar um projeto de reeleição em 2018.
No elenco de medidas está o Ministério da Segurança. Tratar a iniciativa como gesto para agradar a "bancada da bala", como chegou a ser feito até em certos gabinetes do Planalto, é puro reducionismo. Desde o ano passado o presidente se empenha na formação de uma aliança de centro-direita que possa apresentar um candidato às eleições presidenciais - ele próprio, se for possível. Se a intervenção no Rio der certo, o governo tira o discurso e assume a bandeira da segurança que hoje tem um dono - o deputado Jair Bolsonaro, o segundo colocado nas pesquisas, provável candidato do PSL. Não foi por outro motivo que Bolsonaro foi um dos primeiros a condenar acidamente a decisão.
Um dos principais conselheiros de Temer, o ex-presidente José Sarney costuma dizer que qualquer governo, mesmo no chão das pesquisas, é capaz de conseguir entre 17% e 20% para um candidato a presidente. Muitos entendem a expressão de Sarney como uma receita fisiológica. Isso também. Mas a Presidência da República tem instrumentos a mão muito mais poderosos, como se vê agora na intervenção federal (o PT, quando chegou ao governo, tentou algo parecido no setor da Saúde do Rio, para desestabilizar a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia às eleições presidenciais de 2006).
A questão agora é o risco. A solução para a segurança do Rio não se dará do dia para a noite, mas a situação é tão dramática que até uma mudança cosméstica pode ter efeito sobre o ânimo da população sobressaltada. Pode não beneficiar eleitoralmente o presidente Temer, mas um candidato da situação. Na aliança de centro-direita sonhada no Palácio do Planalto, liderada pelo MDB, cabem DEM, PP, PR, PTB, PRB e outros semelhantes.
A reforma da Previdência, peça a ser sacrificada no altar da reeleição, cada vez mais parecia ao governo uma medida a ser deixada para o próximo presidente - por absoluta falta de votos. E a esta altura, a pouco mais de seis meses da eleição, entre agradar o mercado e a população não só do Rio, não foi difícil a decisão do governo. Até porque sabe-se, no Planalto, que os mercados já "precificaram" o enterro da proposta, que deve voltar no próximo governo talvez até em termos bem mais duros.
Temer voltou a cogitar a reeleição porque nenhum candidato do centro para a direita decolou, após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornar-se inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Sem ele nas pesquisas, apenas Bolsonaro se manteve na casa dos dois dígitos, ainda assim no mesmo patamar a que chegou no meio do ano passado. O governo Michel Temer decidiu ser protagonista na eleição e dentre as várias medidas que vem adotando a mais popular - e a de mais alto risco - é a intervenção na segurança pública do Rio. Enquetes feitas na internet mostram que, pelo menos no primeiro momento, a população aplaudiu.
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