É legítimo que o município invista recursos num evento que atrai turistas e gera renda
O carnaval é um patrimônio da cidade, vitrine incontestável de seu espírito alegre e festivo. Não foi por acaso que esteve representado com destaque nas cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada Rio 2016, transmitidas para bilhões de espectadores no mundo todo. Mas não só. É um meio de sobrevivência também. Segundo números da Riotur, no ano passado, a festa movimentou cerca de R$ 3 bilhões, atraindo 1,1 milhão de turistas.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), a ocupação hoteleira na capital este ano foi de 86%, chegando a 96% em bairros como Flamengo e Botafogo. Performance excelente, considerando que a cidade ganhou 20 mil novos quartos para os Jogos. Os números do carnaval de rua também impressionam. Segundo a Riotur, os blocos carnavalescos reuniram este ano 7 milhões de foliões em mais de 600 desfiles.
Por tudo isso, a organização da festa tem de ficar a cargo da prefeitura, como é, e sempre foi. Não faz sentido a proposta levantada pelo deputado Índio da Costa (PSD-RJ), pré-candidato ao Palácio Guanabara, de querer transferir essa tarefa ao governo fluminense.
O estado já não consegue cumprir suas atribuições mais comezinhas. O exemplo mais gritante é a segurança, que acaba de sofrer intervenção do governo federal a pedido do próprio governador, Luiz Fernando Pezão, que admitiu que perdera o controle da situação. O que aconteceu nas ruas durante o carnaval foi um descalabro. O esquema de policiamento demorou a sair e, quando chegou, percebeu-se que fora mal feito. Como resultado, roubos, arrastões e agressões gratuitas.
Mas os sinais de falência percorrem praticamente todas as pastas. Servidores estaduais ainda aguardam o pagamento do décimo terceiro; universidades vivem situação de penúria, e hospitais e UPAs funcionam precariamente, apenas para citar alguns exemplos.
Não que a situação do município seja muito melhor, mas a crise não é tão dramática quanto a do estado, que, falido, teve de recorrer ao socorro financeiro da União.
É fato que este ano a prefeitura cortou parte da verba para os desfiles, alegando que precisaria do dinheiro para pagar diárias de creches conveniadas. Mas é preciso levar em conta o retorno que o carnaval dá para a cidade. É legítimo que o município invista recursos num evento que atrai turistas e gera empregos e renda.
Recursos privados são sempre bem-vindos. Mas eles podem ser captados pela prefeitura. Aliás, parte da verba destinada às escolas este ano veio do patrocínio de uma empresa de aplicativo para transporte.
As escolas também costumam recorrer a patrocínios privados — já houve época em que a maioria dos enredos era patrocinada. Mas todo mundo sabe que eles costumam minguar em época de crise. O importante para o sucesso do espetáculo é que cada um faça a sua parte. A prefeitura cuide da organização, como sempre fez, e o estado garanta a segurança, como é sua missão. O resto é com as escolas e os blocos.
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