- O Estado de S.Paulo
Temer e Meirelles disputam paternidade da economia que "deu certo"
Dois candidatos a candidato à Presidência, cada um bem abaixo de 5% nas pesquisas de intenção de votos, disputam o legado da política econômica do governo Temer. Detalhe: os dois são vizinhos no Planalto. Temer cada vez mais dá sinais de que é candidato à reeleição, seja para valer ou até para garantir uma “sobrevida” no final do mandato. E Meirelles, ao seu estilo, vem admitindo interesse em mudar do ministério para a Presidência, enquanto busca um partido para abrigar seu projeto - a sua própria legenda estaria inclinada a ficar com o tucano Alckmin.
Poucos dias após a apresentação da agenda requentada de 15 pontos, em que o governo tentou passar a impressão de que não está parado e dispõe de alternativas para ajudar a tapar o buraco da reforma da Previdência, o ministro da Fazenda deu a senha: está pensando no assunto e considera a Fazenda uma “etapa já cumprida”.
O presidente, por sua vez, derrotado na Previdência e, tudo indica, também convencido de que encerrou sua missão na economia, virou-se para outras bandas. Melhor dizendo, para a banda da segurança, com a polêmica intervenção militar no Rio e a mais que polêmica criação do Ministério da Segurança.
Embora não admitam publicamente, os dois candidatos a candidato sabem, na verdade, que não há mais o que fazer na economia neste ano. Principalmente na área fiscal, que ameaça impedir a volta de um crescimento mais acelerado, mais equilibrado e mais sustentado. Os mesmos motivos que embasam a rejeição da reforma da Previdência tenderão a barrar projetos ditos impopulares, tanto na linha de corte de gastos como de aumento de receita.
Ainda mais com um terceiro aspirante à Presidência, Rodrigo Maia, no comando da Câmara e da pauta de votações: basta ver, a esse respeito, a “singela” revelação de Maia de que o governo cogitava a criação de um tributo específico para financiar a segurança.
Nesse cenário, em que todo mundo sonda todo mundo e balões de ensaio são inflados, Temer e Meirelles tenderiam a disputar a paternidade da política econômica que “deu certo” - aquela que conseguiu derrubar a inflação e pôr fim à recessão, ainda que amparada em medidas de estímulo ao consumo, vistas quase como uma heresia no início do governo, por remeterem à nova matriz econômica de Dilma.
A política econômica que “não deu certo”, ou pelo menos não chegou ao final, ou seja, o ajuste fiscal, essa seria empurrada para o colo do Congresso. O apoio ao ajuste teve seu auge com a aprovação do teto de gastos - hoje questionado inclusive em alas mais ortodoxas do pensamento econômico -, porém ficou pelo meio do caminho, não só com o fracasso da reforma da Previdência mas também com a não aprovação de medidas como o adiamento do reajuste salarial dos servidores públicos e a reoneração da folha de pagamento de diversos setores.
Seria no mínimo interessante, se não fosse improvável, assistir a uma disputa eleitoral entre o presidente e seu ministro da Fazenda, os dois defendendo a política econômica e atacando o Congresso. E o presidente da Câmara reforçando a agenda de reformas, mas reafirmando que o Congresso fez sua parte. No meio desse embate na centro-direita, tenta ganhar corpo a candidatura do tucano Alckmin. Que certamente não dará aval integral à economia do atual governo, mas na prática não se distanciará muito das suas bases.
O formulador do programa econômico de Alckmin, Persio Arida, definiu competitividade e inovação como linhas prioritárias do candidato. Falou em aprofundamento das reformas, como a tributária, em privatização, soluções para crise fiscal - e destacou a inclusão social como resultado dessas ações, da melhora em educação, saúde e segurança pública, em contraponto ao populismo.
Enquanto os candidatos a candidato ajeitam suas posições, o que será da economia? O cenário para este ano até que está razoavelmente definido: melhora na atividade econômica, alívio no mercado de trabalho, inflação baixa, juros básicos idem e frágil equilíbrio fiscal. Para 2019, no entanto, a dúvida é se esse frágil equilíbrio irá se desfazer, com o risco de estouro do teto de gastos. Aí sim a situação se complica: se algum candidato de “dentro” do governo chegar lá, enfrentará o desafio de ter de fazer o serviço que não conseguiu fazer até agora. E dessa vez sem direito a pôr a culpa na “herança maldita”.
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