- Folha de S. Paulo
O PSDB, como o PT, enfrenta o desgaste de ser identificado com o sistema político que desabou
Não duvido que Geraldo Alckmin e o PSDB de São Paulo tenham muitas qualidades. Afinal, essa coisa de acreditar que alguém pode vencer várias eleições seguidas só enganando o eleitorado é coisa de tucano, e eu sempre votei no outro cara.
Mas a vida do candidato pessedebista à Presidência não anda fácil.
Nas últimas eleições presidenciais o PSDB foi um competidor fortíssimo. Tinha votações muito expressivas em São Paulo e nos outros estados de agronegócio forte. Era altamente competitivo em Minas Gerais. Desde que FHC neutralizou Maluf nos anos 1990, os tucanos não tiveram desafiantes pelo flanco direito. A hegemonia no campo antipetista trazia muito apoio na elite econômica e entre os formadores de opinião. É difícil imaginar que algum outro partido tivesse conseguido resultados melhores contra o lulismo em seu auge.
Um impeachment, vários ministérios com Temer e diversos líderes pegos pela Lava Jato depois, ficou mais difícil para o PSDB.
Aécio "um que a gente mata" Neves é um dos políticos mais rejeitados do país. Não sabemos ainda o efeito que isso terá sobre a força do partido em Minas Gerais.
Pela primeira vez em muito tempo o PSDB tem um desafiante à direita, Jair Bolsonaro, para quem dois pés no segundo turno já são meio caminho andado. O PSDB era um grupo de opositores da ditadura que abraçaram uma espécie de social-liberalismo. Bolsonaro representa a turma para quem essa identificação com a democracia é uma desvantagem. É difícil imaginar que não roube ao menos um terço do eleitorado que o PSDB teve nos últimos primeiros turnos.
O PSDB, como o PT, enfrenta o desgaste de ser identificado com o sistema político que desabou. Isso é uma grande injustiça histórica. Eram o que havia de melhor na política brasileira, e por isso eram quem tinha coragem de mostrar a cara nas disputas presidenciais. Mas o risco de serem considerados "velha política" ainda é real, mesmo depois da desistência de Huck.
E o PSDB não precisará só concorrer com o "novo" (seja lá o que for isso). O "velho o suficiente para mentir que sou vintage" também terá seu candidato. No dia em que Huck desistiu de sua candidatura —o que, em tese, seria bom para os tucanos— Temer anunciou a intervenção federal no Rio. Ao fazê-lo, lançou a própria candidatura à Presidência, tentando apresentar-se como um sujeito que combina o programa liberal do velho PSDB com o programa de segurança de Bolsonaro. E Temer tem a máquina.
Lideranças tucanas se perguntam se um candidato mais carismático não seria a solução. FHC flertou com a candidatura Huck, que não saiu, e Arthur Virgílio tentou se lançar como candidato nas prévias tucanas, mas desistiu.
Não é problema de carisma. Alckmin pode falar mal, mas Bolsonaro mal fala. Um dos rivais de Alckmin pode ser Temer e, comparado a Temer, Alckmin tem o carisma de uma Anitta. Este ano não tem Lula.
As cartas na mão do PSDB é que são piores do que já foram.
Alckmin ainda tem chances de vitória. Se conseguir mobilizar metade do eleitorado tradicional tucano, pode ir ao segundo turno, e aí é jogo aberto.
O triste é ver o partido do Plano Real tendo que disputar votos na direita com um fascista e uma fantasia da Paraíso do Tuiuti. Mas os tucanos não têm a quem culpar senão a si mesmos.
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*Doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, é analista do Banco Central.
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