O governo entrega a pasta ao PTB e assiste a uma série de nomeações descabidas, movidas a interesses particulares, e gera um exemplo de patrimonialismo e compadrio
O que acontece no Ministério do Trabalho no governo Temer chega a rivalizar com as doações fisiológicas de áreas da administração, como se fossem capitanias hereditárias, nos tempos de Lula e Dilma.
O Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário, no lulopetismo, foram transferidos ao MST e aliados; o Transporte, para o PR do ex-presidiário, mensaleiro, Valdemar Costa Neto, responsável por um movimentado balcão de negócios na pasta, que funciona até hoje; ao PDT, coube o Trabalho, em que houve indícios de funcionamento de um guichê de criação de sindicatos, rico negócio antes de o imposto sindical ser extinto.
Na era do MDB de Temer, o Ministério do Trabalho foi repassado para o PTB, de outro mensaleiro ex-presidiário, Roberto Jefferson, num negócio ilustrado por cenas de chanchadas da Atlântida. O vídeo em que a ministra indicada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha de Jefferson, aparece em uma lancha, ancorada em algum ponto da costa turística do Rio, cercada de fortões sem camisa, é impagável.
Os amigos em veraneio dão declarações desastradas para defender Cristiane: “quem nunca foi processado pela Justiça trabalhista?”. Muita gente, por certo, mas a ministra indicada ter dois processos contra ela de ex-empregados começou a reduzir a boa vontade de Temer com a indicação nepótica de Jefferson, que daria em troca votos petebistas na votação do projeto da Previdência.
Como nunca esteve em questão a propriedade da pasta pelo partido, a saída foi colocar como ministro Helton Yomura, ligado a Cristiane. Além das idas e vindas na indicação da deputada fluminense, houve a nomeação, revelada pelo GLOBO, do jovem Mikael Tavares Medeiros, 19 anos, numa função de gestor de pagamentos de contratos de R$ 473 milhões, quase meio bilhão.
Tem-se a ideia precisa do descaso com que governos fisiológicos e clientelistas tratam o dinheiro do contribuinte. O jovem concluíra com dificuldades pedagógicas o ensino médio, acabara de entrar numa faculdade e, no cargo público desde 28 de dezembro, liberou pagamentos de R$ 22,49 milhões para a empresa B2T, apanhada por auditoria com suspeitas de superfaturamento.
Descoberto, Mikael terminaria exonerado, mas ficaram os rastros da operação de compadrio que o nomeou. Ele é filho do delegado de Polícia Civil Cristiomario de Sousa Medeiros, presidente do PTB em Planaltina de Goiás e aliado do deputado federal Jovair Arantes (GO), agressivo defensor de Temer, líder do governo na Câmara.
Ainda no Trabalho, Jovair emplacou um sobrinho, Leonardo José Arantes, como secretário de Políticas Públicas de Emprego, cargo de alto escalão. E Leonardo, por sua vez, empregou dois amigos do futebol de fim semana.
A pasta parece extrapolar no compadrio típico exercitado na máquina pública. Mas é um equívoco pensar que se trata de um único caso. Esta prática de empregar amigos, sem critérios baseados na meritocracia, é cultura arraigada, típica do patrimonialismo de um país em grave crise de valores.
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