Vera Rosa | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O governo iniciou uma ofensiva em duas frentes contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso. A primeira é jurídica e a segunda, na arena política, na tentativa de mostrar “contradições” de Barroso. A estratégia ganhou força na segunda-feira, 12, em várias reuniões ao longo do dia entre o presidente Michel Temer, ministros que têm gabinete no Palácio do Planalto, líderes da base aliada e um jantar no Jaburu com o chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
Temer pediu para Marun, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, e líderes no Congresso atacarem em público as últimas decisões de Barroso. Nos últimos dias, o magistrado derrubou o indulto de Natal concedido pelo presidente a condenados por crime do colarinho branco, como corrupção e peculato, quebrou o sigilo bancário de Temer e autorizou a investida contra o ex-deputado Rodrigo da Rocha Loures (MDB-PR) e o coronel João Baptista Lima. Loures e Lima são suspeitos de intermediar propina para Temer.
“Nós discutimos como expor a figura do novo escrevedor monocrático da Constituição, que se chama Barroso”, disse o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS), um dos vice-líderes do governo na Câmara. “O homem está reescrevendo a Carta Magna e todos precisam saber disso”, ironizou ele.
No Planalto, auxiliares de Temer dizem que o Supremo virou uma “Corte dividida e politizada”, com Barroso “ultrapassando todos os limites”, e veem risco de crise institucional. “O presidente sabe que vai sofrer”, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), que comanda o MDB e nesta terça-feira, 13, se tornou o primeiro réu no STF em investigação aberta após delação da Odebrecht.
Jucá fez o comentário ao ser questionado se o presidente estaria sendo atacado por ser candidato a novo mandato. No sábado, Temer conversou com a presidente do Supremo, Carmen Lúcia, na casa dela, em Brasília. Oficialmente, pediu o encontro para tratar dos problemas de segurança pública no Rio e em outros Estados.
Nos bastidores, porém, sabe-se que um dos temas abordados foi a inclusão do seu nome no inquérito que apura repasses de verba da Odebrecht ao MDB, na campanha de 2014.
Inconformado, Temer também chegou a encaminhar, na semana passada, uma carta à procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Na correspondência a Dodge, ele incluiu parecer do jurista Ives Gandra Martins e carta de Torquato, segundo os quais a investigação de um presidente por episódios ocorridos antes do início de seu mandato é inconstitucional.
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