Aliança entre direita e neofascistas vence o pleito, seguido pelo populista Cinco Estrelas, numa derrota das forças moderadas de centro
O fragmentado resultado das eleições de domingo mergulhou a Itália num mar de incertezas e, com ela, o próprio bloco europeu, porque o populismo ressurgiu com força no cenário político. Ao se referir à votação, muitos analistas ecoaram a manchete do jornal “Corriere Della Sera”, afirmando que as eleições provocaram um “terremoto político”. Mas, para além do óbvio avanço do populismo — inclusive com a volta por cima da burlesca figura de Silvio Berlusconi, após anos forçado ao limbo da política por condenações judiciais —, o significado mais amplo do pleito ainda está sendo digerido por analistas.
O partido Cinco Estrelas (M5S, na sigla em italiano), criado há nove anos como alternativa às agremiações tradicionais, obteve o melhor desempenho individual, com 32,6% dos votos. Mas a vencedora do pleito foi a aliança de três partidos de direita, considerando os 35,7% dos votos conjuntos de Liga (ex-Liga Norte, 17,4%), liderado por Matteo Salvini, cuja principal bandeira é a luta contra a política de acolhimento de imigrantes na União Europeia (UE); Força Itália (FI, 14%), partido do ex-cavalieri Berlusconi; e os neofascistas Irmãos do Norte (FDI, 4,3%). Já o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi renunciou à liderança do Partido Democrático (PD, 18,7%), após a derrota.
Como nenhum partido recebeu mais de 40% dos votos necessários para formar maioria no Parlamento, preveem-se negociações entre as forças políticas. Antecipando-se a isso, Salvini já reivindicou o cargo de premier, afirmando ter “o direito e o dever” de governar a aliança vencedora. Ele reafirmou o pacto com Berlusconi e disse que os europeus devem temer os “delinquentes e parasitas” e não os populistas. “Continuo sendo orgulhosamente populista”, afirmou, acrescentando que “o euro foi, é e continua sendo um erro”, mas descartou a possibilidade de realizar na Itália um plebiscito nos moldes do Brexit.
Alguns especialistas viram nas eleições italianas o sinal de que o sentimento eurocético, devido sobretudo à questão dos imigrantes e ao rígido controle fiscal exercido pela UE sobre as finanças locais, se espalhou da periferia da zona do euro para países centrais. Outros, no entanto, creem que os efeitos didáticos do Reino Unido, que estão pagando um alto preço pelo divórcio com a UE, devem atenuar o afã por movimentos de secessão. Resta saber como estas forças políticas vão lidar pragmaticamente com tais questões.
Um fato alvissareiro, que acabou ofuscado pelo avanço populista na Itália, foi o acordo entre a União Democrata-Cristã (CDU), de Angela Merkel, a União Social-Cristã (CSU) e o Partido Social-Democrata (SPD), após mais de cinco meses de tensas negociações. A chanceler alemã tem agora caminho livre para, ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, tocar as reformas de que o bloco precisa, o que poderá conter, a médio prazo, o avanço populista.
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