Trump diz que restringirá importações de aço e alumínio e há risco de escalada protecionista
Após meses de retórica protecionista, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resolveu partir para a ação —infelizmente. Em recente reunião com empresários, anunciou que imporá em breve tarifas sobre as importações de aço e alumínio, medida que pode ser o primeiro tiro de uma guerra comercial em larga escala.
Houve pronta repercussão no Brasil, cujos embarques de aço ao mercado americano somaram US$ 2,6 bilhões em 2017 (de US$ 217,7 bilhões em exportações do país). Em dois dias, as principais siderúrgicas nacionais perderam R$ 2 bilhões em valor de mercado.
O objetivo é assegurar que ao menos 80% da capacidade industrial dos EUA nesses segmentos possa se manter em uso, o que não vem ocorrendo por causa das compras de produto estrangeiro.
De forma mais ampla, trata-se de reduzir o déficit comercial americano —de cerca de US$ 800 bilhões anuais, o maior do mundo em valores absolutos.
Baseada em considerações de segurança nacional (produção de equipamento militar), a recomendação do Departamento de Comércio, que tende a ser seguida por Trump, é estabelecer cotas ou taxar as importações de aço e alumínio em 25% e 10%, respectivamente.
Não está claro se todos os países estariam sujeitos às mesmas restrições. O mesmo documento listou os principais vendedores para os EUA, entre os quais estão, entre outros, Brasil, China e Índia.
A ofensiva estúpida pode desencadear retaliações em série dos parceiros comerciais e retrair o volume de comércio internacional, com prejuízo generalizado.
Nem mesmo parecem claros os benefícios mais imediatos à economia americana. Outros compradores desses insumos, como os fabricantes de automóveis, perdem competitividade e empregos. O risco de inflação e juros mais altos também se torna crescente.
O republicano se move para agradar a sua base eleitoral antes das eleições legislativas de outubro, especialmente nos estados associados à velha base industrial do país. Nesse sentido, é até plausível que Trump se contente com uma ou outra providência pontual.
Tudo indica, porém, que a escalada protecionista vai continuar, com foco na China. Está em curso uma investigação com potencial mais amplo, relacionada às práticas chinesas para ganhar acesso à propriedade intelectual.
Se a restrição ao aço e ao alumínio —que representam parcela ínfima das compras americanas— já pode enfraquecer os mecanismos multilaterais de negociação comercial, um conflito aberto das duas maiores potências na área tecnológica teria impactos desastrosos.
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