Os ‘campeões invisíveis’ — projetos de inovação, pequenas e médias empresas, por exemplo — devem substituir os ‘visíveis’, relacionados à corrupção
Não é uma polêmica que valha a pena travar, a não ser por curiosidade acadêmica, saber se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, o BNDE, fundado em 1952 e que recebeu o “S” de social na década de 80, teve peso na montagem de segmentos estratégicos da indústria, no pós-Guerra. Divergências laterais à parte, é evidente que teve, e foi necessário para o país dar sequência à industrialização quase espontânea das fases de estrangulamento cambial em 29/30 e na II Guerra.
O banco de desenvolvimento chegou a ser presidido, em 1958, por um liberal convicto, Roberto Campos. Mas seriam dirigistas e ditos desenvolvimentistas que o BNDE fascinaria. Foi assim no governo militar do presidente Geisel, quando o banco serviu de berçário para subsidiárias que iriam operacionalizar o programa de substituição de importações de bens de capital (máquinas e equipamentos) e insumos básicos (química, petroquímica, fertilizantes). O BNDE serviu de plataforma para a transferência de enorme quantidade de dinheiro do contribuinte para empresas eleitas por Brasília para acabarem com a “dependência externa” nesses segmentos da indústria. Concentrou renda.
Não deu certo e, mesmo assim, a mesma experiência foi repetida, em sua essência, desta vez por um governo de esquerda — os nacionalistas de esquerda e de direita costumam andar juntos em alguns momentos históricos, pelo menos na América Latina —, a partir do final do segundo governo Lula e durante a gestão Dilma Rousseff. O resultado é conhecido, inclusive os criminais.
Mais uma vez, rastros e esqueletos da aventura estão no BNDES. O governo de Michel Temer está no fim, mas há muito o que fazer, como sempre, em cada segmento do setor público. No BNDES, por exemplo, está em curso uma alteração de eixo estratégico que deveria ter continuidade no próximo governo.
O entulho dirigista está sendo varrido: a delirante estratégia dos “campeões nacionais”, alimentados por dinheiro do contribuinte — como na era Geisel —, é substituída pelo projeto dos “campeões invisíveis”, revelou O GLOBO. Grandes posições na carteira do braço de participações do banco, BNDESpar, não ficarão congeladas. Viabilizada a empresa, vendem-se ações, o banco lucra e se capitaliza para voltar a sustentar projetos. Como um banco de fato “de desenvolvimento".
Diz Eliane Lustosa, diretora do BNDES, com razão, que as grandes posições em títulos da Vale, Petrobras, Eletrobras, empresas consolidadas, não se justificam. Não se irá vendê-los de forma descuidada, para evitar derrubar o mercado. Mas não se justificam, e devem gerar receita para sustentar “campeões invisíveis” — como pequenas e médias empresas, projetos de inovação e empreendimentos na infraestrutura. Os “campeões visíveis”, como o JBS, geraram escândalos, a partir de compadrios e esquemas de financiamento de projetos de poder e de enriquecimento pessoal. O BNDES não foi criado para isso.
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