- Folha de S. Paulo
Sob nó jurídico, petista levou resistência política ao limite em busca de fôlego
Lula fez o último cálculo político antes de sua prisão ao entrar na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na quinta-feira (5). Reconhecendo ter perdido uma batalha, o ex-presidente usou as horas que passou amotinado para colher uma vitória final: desviar os holofotes de seus algozes e estimular a militância a continuar ativa após seu encarceramento.
Ao forçar um acordo sobre os termos de sua apresentação à Polícia Federal, Lula levou a disputa com as autoridades para o terreno político, tomou o controle da própria derrota e transformou o episódio em um ato público a seu favor, com transmissão ao vivo pela TV.
O objetivo do petista é enfatizar, a cada passo, que não aceita nenhum aspecto dos processos que correm contra ele. A rejeição da oferta para que ele se entregasse voluntariamente foi a senha para manter candente entre seus apoiadores um discurso contra arbítrios da Justiça.
O caráter político da resistência de Lula foi potencializado e levado ao limite nos últimos dias porque o ex-presidente passou a se considerar sitiado em todas as instâncias do Judiciário. Os petistas perderam esperanças até no Supremo Tribunal Federal, de onde acreditavam que poderia sair a carta que o livraria da prisão.
Esse ceticismo pautou o abandono dos planos de impor um bloqueio físico à entrada de policiais no sindicato. Seus advogados foram enfáticos ao alertar que o embate provocaria a decretação da prisão preventiva do petista, jogando-o em uma espiral que inviabilizaria os parcos recursos judiciais à sua disposição.
A força política do ex-presidente sempre dependeu de sua capacidade de embaralhar imagem pessoal, simbolismo político, oposição de classes e, agora, um ataque permanente à Justiça. A derrota deste sábado era inevitável, mas Lula tentou usar as 48 horas no bunker para instigar um movimento que tentará preservar parte de seu fôlego enquanto ele estiver atrás da porta de uma cela.
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