O lançamento do manifesto "Por um Polo Democrático e Reformista", na última terça-feira (5), no salão verde da Câmara dos Deputados, mostrou o quanto será difícil reunir a centro-direita brasileira em torno de uma candidatura única, nas eleições presidenciais de outubro. Prova disso é que nem mesmo os candidatos ditos de centro apareceram para prestigiar o evento. O documento caiu no vazio.
Uma hipótese para o esvaziamento da solenidade é que ela teria sido preparada sob medida para o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, desde sempre visto como o homem capaz desse feito. A ser verdade, essa versão apenas serve para reforçar a ideia de que a união do centro caiu vítima das vaidades, ambições pessoais e que será difícil a união das forças também no segundo turno, se houver um segundo turno.
Ao contrário do que imaginavam as forças políticas que sempre orbitaram em torno do PSDB, PMDB, DEM (o antigo PFL) e PP, a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez muito mal à chamada centro-direita. Essas forças não entenderam que, sem Lula na disputa, ainda seria preciso vencer uma eleição. Não se tratava de mera nomeação.
Mas em vez de unir o outro lado em torno de um candidato capaz de liderar a retomada do Palácio do Planalto, a ausência de Lula agravou os conflitos internos do centro político. Tanto que ele é capaz de recorrer a argumentos mesquinhos para esvaziar um ato que teria muito o que dizer ao país. Perplexo com a rejeição popular, está imobilizado, sem poder de reação até para apresentar uma proposta de governo capaz de despertar o país para uma eleição que está à porta mas até agora não motivou o eleitor.
Não é por acaso que nenhum candidato do chamado centro democrático parece capaz de romper a barreira de um dígito nas pesquisas eleitorais. Em vez de desculpas esfarrapadas, como a de que a eleição só começa depois do horário eleitoral na TV, os pré-candidatos da centro-direita deveriam se perguntar por que não se movem nas pesquisas. Será que já ocorreu aos moderados que o povo não quer nenhum deles? Ou será porque o centro-político não tem alternativas para derrubar o desemprego, restabelecer a autoridade da figura presidencial, avançar na educação e executar uma política de segurança pública realmente eficaz? O discurso do PSDB é o mesmo há pelo menos três eleições -muita finança e pouca saúde.
A questão fiscal é efetivamente importante, diria-se crucial. Mas falta um pouco mais de inclusão social na fala tucana, pelo menos desde 2002, quando o programa Saúde na Família era a ponta de lança da campanha de José Serra à Presidência. Recem-saído de uma administração elogiada da política de Saúde na gestão Fernando Henrique Cardoso, o candidato passou credibilidade ao prometer resolver esse problema.
Frasista nato, o senador Cristovam Buarque, um dos ilustres signatários do manifesto "Por um Polo Democrático e Reformista", destacou no evento que não é possível admitir que a única alternativa em jogo, nas eleições presidenciais, está entre o " desastre ou a catástrofe". Referia-se evidentemente ao pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, representante da extrema direita, e ao petista a ser abençoado por Lula ou até Ciro Gomes (PDT). Enfim, a receita de um novo impeachment, segundo voz corrente no Congresso.
Na campanha de 1954, Carlos Lacerda dizia que Getulio Vargas não deveria ser candidato; eleito, não deveria tomar posse; empossado, deveria ser derrubado. Sabe-se no que deu. Entre o primeiro e o segundo turno de 2014 o ex-senador José Anibal adaptou a frase para Dilma Rousseff. Acertou mas, a esta altura, preferiria ter errado. Com Bolsonaro ocorre algo parecido.
No passado recente, dizia-se no Congresso que Bolsonaro nem disputaria a eleição, por inexpressivo. Depois a tese da moda era que seu discurso tosco seria desconstruído na campanha eleitoral. Agora já se afirma que ele não sobreviverá aos debates. Afirmava-se a mesma coisa de Dilma Rousseff. O palpite da hora é que Bolsonaro, se eleito, sofrerá o impeachment, por sua reconhecida incapacidade para reunir apoios políticos, como Fernando Collor e Dilma.
É fato que já não se fala que Bolsonaro, se eleito, não tomará posse. Mas isso também não se falava desde Collor, o primeiro presidente eleito sob uma Constituição que tirou o poder de arbitragem dos militares. Lá se vão 30 anos.
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