Em entrevista ao JB, pré-candidato pelo PSDB diz que busca alianças com cinco partidos
Bernardo de la Peña | Jornal do Brasil, domingo, 10/6/2018
Depois de governar São Paulo por duas vezes, o médico anestesista Geraldo Alckmin foi escolhido para disputar a eleição à Presidência da República pelo PSDB pela segunda vez. Na anterior, em 2006, foi derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reelegeu na ocasião. Nas últimas semanas, Alckmin tem sido alvo de fogo amigo dentro do próprio partido, com críticas ao seu desempenho nas pesquisas e à condução da campanha. Em entrevista ao JB, o pré-candidato tucano diz que não há possibilidade de desistir da candidatura e que "há muita futrica da Corte" em relação ao assunto. O tucano, que está costurando aliança com cinco partidos, afirma ter simpatia por Marina Silva.
• Especulou-se sobre a possibilidade de o senhor abrir mão da sua candidatura. Há fundamento nisso?
Não. Na realidade, não houve nenhuma especulação nesse sentido. Tem é muita fake news. É impressionante como, às vezes, a imprensa, e isso é um fenômeno mundial, em vez de cobrir com profundidade os temas de interesse do país, dá espaço para essas especulações. Há muita futrica da Corte. Pretendo ser candidato até o dia da eleição.
• Acredita na possibilidade de se aliar a outro pré-candidato de centro?
Nenhum candidato até agora celebrou aliança porque a lei mudou. Pela lei antiga, as convenções começariam no dia 1º de junho. Agora, pela lei nova, só se pode fazer a convenção a partir de 20 de julho, e até 5 de agosto. Então, você só vai saber quem tem candidato e quem não tem no finalzinho de julho. Nós, hoje, temos uma conversa com cinco partidos.
• Quais seriam os partidos?
Nós vamos deixar que eles anunciem, no momento adequado.
• São conversas para alianças?
Acredito que podemos ter seis partidos numa boa aliança. E isso faz diferença por causa do tempo de televisão e de rádio. É uma campanha muito curta, ela só começa praticamente em 31 de agosto.
• Entre Rodrigo Maia (DEM), Henrique Meirelles (MDB) e o senador Álvaro Dias (Podemos), que foi do seu partido, com quem o senhor tem mais afinidade?
Acho que temos que respeitar o tempo. São outros partidos, que têm grandes lideranças. Não vão ser poucos candidatos. Isso é fruto do pluripartidarismo brasileiro. Infelizmente, a reforma política não foi feita como deveria. Não existem 35 ideologias, existem partidos que são pequenas e médias empresas mantidas com dinheiro público. Evidente que isso não está correto. A primeira reforma que eu pretendo fazer, já no começo do ano que vem, é política.
• Isso se o senhor for eleito, não é?
Quem for eleito vai ter mais de 50 milhões de votos. A legitimidade disso é muito grande. Tem que aproveitar essa força da democracia, do voto. para fazer as reformas que o Brasil precisa para poder voltar a crescer. O nosso foco é emprego e renda.
• Essa é a prioridade?
É fazer o Brasil voltar a crescer. Aliás, se você verificar, da década de 30 até a década de 70, o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo. Era um país pobre, e passou a ser um país de renda média, só que estagnou nessa armadilha. Ele não consegue avançar, ficou muito caro. Se você pegar um automóvel aqui, ele custa 2,5 vezes mais do que nos Estados Unidos. O spread bancário, os juros, é 4 vezes a media do mundo. Um país caro perde competitividade e cresce pouco.
• O senhor é a favor do porte de armas?
O que eu defendo é a flexibilização do porte de arma na área rural que é ermo, distante. Diferente da cidade, que você disca 190, chama a polícia, tem vizinho, patrulhamento do bairro. Lá, você precisa de polícia na rua, e bem treinada. Em São Paulo, tínhamos 13 mil assassinatos por ano e reduzimos para 3.503 para uma população de 45,5 milhões de habitantes. O último número do Atlas da Violência é de 10,9 por 100 mil habitantes e é o menor. Pretendo dar total prioridade à segurança. Não é um problema do estado A, B, C. É um problema do Brasil inteiro muito ligado ao tráfico de drogas e de armas.
• Mas voltando à questão política.
Veja bem, é preciso dizer que os erros da política econômica do governo do PT levaram ao total descontrole das contas públicas, e o resultado foi a inflação de mais de 10%, desemprego de 13 milhões de pessoas, fora o desalento e outro tanto. Como se vence isso? A inflação baixou, veio para 3%, isso se deve muito também à supersafra que nós tivemos na agricultura. De outro lado, a reforma trabalhista está correta porque nossa legislação era de 1940. As relações de trabalho mudaram no mundo inteiro. Claro que precisa ser aperfeiçoada. Vamos ouvir os sindicatos. Eu também defendo a reforma tributária. Hoje existem cinco tributos: IPI, ICMS, ISS, PIS e Cofins. No mundo inteiro é um, o IVA. A ideia é simplificar o modelo tributário. Destravar a economia, esse grande cartório, para desburocratizar e estimular a atividade empreendedora.
• O MDB, antes de lançar o Meirelles, chegou a ensaiar um apoio ao senhor. Existe essa possibilidade?
Não, não teve. Nós respeitamos o doutor Henrique Meirelles.
• Seu vice em São Paulo é um dirigente do PSB. Tem chance de conversa com o partido?
Eu gosto do Márcio França, acho que é uma pessoa preparada. Gostaria muito de ter o PSB conosco. Até tive uma conversa com Carlos Siqueira, presidente do partido.
• O PSB está entre os cinco partidos?
Não. Os cinco estão bem fechados.
• Em um segundo turno, o senhor estaria mais próximo da Marina ou do Ciro Gomes?
É indelicado já excluir a possibilidade de eles irem para o segundo turno. Eu tenho grande apreço pessoal pela Marina. Acho que é uma pessoa de grande valor.
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