Entrevista com Moreira Franco, ministro de Minas e Energia
Ministro cobra apoio à gestão do presidente e afirma que ‘primeiro princípio de um candidato é ser fiel à sua biografia’
Julia Lindner e Anne Warth, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, afirmou que a campanha do ex-ministro Henrique Meirelles sem a defesa do legado do presidente Michel Temer seria “uma farsa”. “O primeiro princípio de um candidato crível é ser fiel a sua biografia”, disse. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele afirmou que Meirelles ainda pode “adquirir” as características necessárias para conquistar protagonismo nas eleições 2018.
Moreira afirmou que nunca houve uma “campanha tão violenta” contra um Presidente da República como a que estaria sendo feita contra Temer, nem mesmo contra a presidente cassada Dilma Rousseff, alvo de impeachment. Ele não descarta a possibilidade de ser apresentada uma terceira denúncia contra Temer, mas também não acha que a Câmara dos Deputados se debruçaria sobre o tema este ano. “O que você acha? Vocês acham que não dá para votar nada, vai votar denúncia? Difícil... Ali (Câmara), agora, é eleição.”
Mesmo após deixar a pasta da Secretaria-Geral da Presidência e assumir o Ministério de Minas e Energia, em abril, Moreira visita Temer quase diariamente no Palácio do Planalto. Os dois também mantêm encontros fora da agenda oficial, como na semana passada, quando se reuniram com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é casado com a enteada de Moreira
A seguir, os principais trechos da entrevista:
• Quando terá definição sobre a candidatura do Henrique Meirelles?
Definição sobre candidatura só vamos ter oficialmente com a convenção (nacional da legenda). Meirelles está percorrendo o Brasil inteiro. Aliás, de todos os candidatos, o que está mobilizando o partido nacionalmente é ele. Tirando o PT, que vive situação delicada, só o MDB tem capilaridade pelo Brasil inteiro para conseguir fazer reuniões como tem feito. E o partido quer ter candidato. A base quer ter candidato. O segundo ponto é que esse quadro de candidatura é ainda pouco claro.
• Por que acha que há tanta indefinição?
A razão da falta de clareza é que as pessoas não veem caminho que seja confiável, que mobilize, provoque adesão, entusiasmo. Os partidos estão machucados com todos esses episódios que ocorreram nos últimos anos, sendo objetos de investigação, condenações. Isso cria situação de descrença, de desânimo. Por outro lado, aquelas instituições que tradicionalmente tinham como razão de ser a mobilização entre as lideranças, as propostas e a sociedade no processo eleitoral não têm mais a mesma força e presença que tinham no passado. Isso dificulta, porque impõe aos candidatos um protagonismo que exige uma personalidade de muita disposição, de muito entusiasmo. De outro lado, nós vivemos numa sociedade de espetáculo já há algum tempo que exige que o candidato seja contemporâneo às expectativas.
• E o Meirelles tem essa personalidade?
Isso se adquire. Quer dizer, o candidato tem que se organizar para ser candidato. Veja que na eleição passada tivemos plástica, dentes novos, penteado excepcional, vestuário adequado. Ou seja, isso é fruto desse ambiente de espetacularização.
• Como estão as conversas com outros partidos sobre alianças com o MDB? O senhor participou da reunião com Temer, Maia e Aécio na semana passada. Foi para discutir eleição?
A reunião foi basicamente para isso. O calendário está andando e as pessoas começam a se movimentar. Eles dois convidaram. Mas o fato, em política, ele se impõe. Se tiver um fato concreto, a gente conversa, não vamos conversar com base em hipóteses. Nós temos nosso problema encaminhado, mas se vocês vierem com alguma coisa, resolvam aí primeiro.
• O senhor está falando do PSDB?
Não sei. Quem detém poderes sobre essa ideia não somos nós. Como é que a gente vai tirar o nosso sem ter algo encaminhado?
• O senhor não esperava que popularidade do presidente Temer estivesse maior neste momento para reforçar uma candidatura única?
Sim, claro. Por outro lado, e eu vim de longe, nunca vi uma campanha contra alguém tão violenta como a que se faz contra o presidente Temer.
• Nem mesmo a ex-presidente Dilma?
Nem mesmo ela.
• Como aproveitar o que foi feito no governo Temer na campanha presidencial considerando essa rejeição que existe contra ele?
Isso é estratégia de comunicação. Mas é claro (que Meirelles deveria defender legado), porque se não seria uma farsa. O primeiro princípio de um candidato crível é ser fiel a sua biografia.
• Em 2002, o (José) Serra não quis pegar a agenda do FHC...
Em 2002, o slogan era ‘continuidade sem continuísmo’, e eu dizia que isso era uma formulação filosófica difícil de entender. Não existe isso. Mas não é o caso, o Meirelles cada vez mais está assumindo o que ele fez, ele foi chamado numa situação de crise para tirar o Brasil mais uma vez, como foi chamado pelo Lula quando situação era gravíssima, e ele não fugiu do chamamento...
• Mas a sensação é que a crise agora não passou, não é?
A crise é muito grave, vivemos a pior crise da nossa história. Em 1929 foi crise provocada por fatores externos, agora essa foi provocada por equívocos da política econômica. O grupo que definia a política econômica na época queria formular uma nova matriz econômica, isso não dá certo em lugar nenhum. Começaram a achar que aumentar consumo pela baixa de imposto iria fazer com que as pessoas tivessem mais emprego e mais renda e deu no que deu. O que gera riqueza é produtividade. Você não consegue substituir aritmética por ideologia.
• A greve dos caminhoneiros não mostra que talvez as pessoas gostem disso, dessa ideologia, de um governo intervencionista? As pessoas estão pedindo tabelamento de frete, subsídio para combustível. O senhor acha que isso foi a melhor solução?
Não existe melhor ou pior, situação é complexa. É absolutamente impossível qualquer atividade ter aumento de preços diário. Por isso eu me posicionei na época e disse que queremos criar um colchão para evitar que haja essa exacerbação da imprevisibilidade. Aumento de preço diário é você não se organizar, você sai de casa sem saber o que vai acontecer, isso não existe. Como também é irracional ter política tributária símbolo do combustível que impede o mínimo de racionalidade na organização dos custos da viagem.
• O senhor acha que agora está resolvido?
Isso terá que ser resolvido baixando imposto, não dá para ser assim. Em torno de 70% da arrecadação dos estados está baseada em cinco impostos, três deles em cima de bens que não são supérfluos, combustível, telecomunicações e energia. Os outros dois são supérfluos, bebida e cigarro. Mas o que ocorre? Todas vezes que Estado e governo federal tem problema fiscal, onde é que aumenta? Nos três. Não dá para ser assim. Não é possível que queira se continuar tendo visão da sociedade brasileira dessa maneira. Isso não só agride o direito das pessoas, a vida, mas leva o Brasil para o atraso. Nesses três você encontra avanço tecnológico. Não é possível permanecer com política tributária injusta e desleal. Se você pega conta de luz, ninguém consegue entender o que está pagando, tem subsídio para tudo. Tem que dar um freio de arrumação nisso. Não dá mais para o colonizador ser o Estado brasileiro. Na agenda político-eleitoral tem que constar o item imposto.
• Mas o governo Temer ainda poderia fazer isso?
Nós não temos tempo... Espero que nosso candidato tenha essa visão. E não é ficar na utopia da reforma tributária, tem que identificar cada um desses pontos e mudar.
• Para isso é preciso ter apoio do Congresso... Ainda é possível ter candidato que tenha capacidade de aglutinar o congresso?
Muito difícil. Mais difícil do que Temer, porque ele foi três vezes presidente da Câmara. Ele conhece aquela casa.
• Ainda existe receio de uma terceira denúncia contra o presidente até a eleição?
O que você acha? Vocês acham que não dá para votar nada, vai votar denúncia? Difícil... Ali, agora, é eleição.
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