- O Estado de S.Paulo
União de forças depende do grupo, mas, vença quem vencer, ele estará de volta em 2019
A tão procurada e até aqui difícil de encontrar união do centro, descrito pelos seus ideólogos como um lugar de convergência de ideais democráticos e de uma agenda reformista para o País, esbarra na força do Centrão, assim com maiúscula e no aumentativo, um conglomerado de partidos com menos propósitos edificantes - mas muito mais força real. Intelectuais podem assinar quantos manifestos quiserem, mas essa união só se dará quando e se o tal Centrão entender que é este o caminho mais adequado para a sua sobrevivência política.
O que hoje se chama de Centrão é um grupo de partidos que se articulou em torno da liderança de Eduardo Cunha. Era integrado por partidos da base de Dilma Rousseff, mas, sob o comando do então todo-poderoso da Câmara, foi decisivo para seu impeachment.
No pós-Dilma e pós-Cunha, quem herdou a chave foi Rodrigo Maia, que contou com o Centrão para de eleger duas vezes presidente da Câmara e já tem com ele apalavrada sua terceira condução, caso seja reeleito deputado.
Mas o fenômeno não é novo: já houve outros centrões, a começar do que atuou na Constituinte. Como o vírus da gripe, ele muda de conformação ano a ano, mas segue poderoso e difícil de combater.
Quem bem definiu a dependência dos grandes partidos dessa massa amorfa foi Fernando Henrique Cardoso. Em 2005, em diálogo com o então petista Cristovam Buarque para a revista do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, ele disse que a disputa entre PT e PSDB não era ideológica, mas por poder, pelo comando. “Os dois partidos que têm capacidade de liderança são o PT e o PSDB. No fundo, nós disputamos quem é que comanda o atraso.”
Treze anos e três eleições depois, o País se encaminha às urnas com os dois partidos que tinham a “capacidade de liderança” profundamente combalidos pela Lava Jato, juntamente com o MDB, que perdeu o P e boa parte da força no caminho. A ponto de não mais comandarem o tal atraso, mas mendigarem seu apoio para ter alguma viabilidade eleitoral. Foi assim com Lula e Dilma pateticamente tentando comprar votos em quartos de hotel para tentar impedir o impeachment.
E não é diferente da negociação real, para além dos manifestos bem-intencionados, da aliança que se busca no tal centro, que na verdade é refém do Centrão virulento. DEM, PP, PRB, PR Pros, Solidariedade e outras legendas ainda menores e mais indistintas tentam negociar em bloco para onde levar seu tempo de TV e sua capilaridade na mais importante e imprevisível sucessão presidencial das últimas décadas.
Alheios aos grandes temas propostos pelos que buscam a união do centro - reforma da Previdência, ajuste fiscal, garantias institucionais -, os partidos do Centrão olham pesquisas, arranjos regionais e cifras dos fundos públicos que lhes abastecem as burras antes de decidir para onde ir.
O objetivo não é escolher aquele mais comprometido com a tal agenda reformista, mas o que tenha mais “cheiro de poder”, como o presidente do PP, Ciro Nogueira, definiu para os colegas de conglomerado numa reunião nesta semana, segundo um dos participantes.
Por ora, eles não sentem esse odor exalando de Geraldo Alckmin, o tucano da vez. Buscam ainda opções de proveta, como Josué Gomes, do PR, e avaliam até Ciro Gomes - que não comunga com muitos dos itens da tal pauta do centro - justamente porque Alckmin lhes parece inodoro demais. O cálculo pragmático pode até fazer com que o Centrão se divida em organismos menores na campanha, cada um atendendo à própria conveniência. Mas uma coisa é certa: vença quem vencer, ele estará de volta, forte e necessário, em 2019. O que FHC não previu, mas aconteceu, é que hoje é o atraso que está no comando.
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