Pesquisas mostram Bolsonaro fraco entre mulheres e no NE, região que também atrapalha Alckmin; Marina e Ciro vão mal entre jovens
Ranier Bragon | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Apesar de estarem há meses em aberta corrida ao Planalto, os principais presidenciáveis enfrentam focos de rejeição que resistem ao tempo. A análise das 13 pesquisas nacionais do Datafolha feitas nos últimos 30 meses mostra que, apesar das subidas, quedas e oscilações nas intenções totais de voto, nenhum deles conseguiu superar seus principais pontos fracos.
Em dezembro de 2015, o Datafolha apontava no cenário que mais se assemelha à atual configuração da disputa um empate técnico entre Marina Silva (Rede), com 24% das intenções de voto, e Lula (PT), com 21%. Em seguida vinha Geraldo Alckmin (PSDB), com 14%. No pelotão de baixo, Ciro Gomes (PDT), com 7%, e Jair Bolsonaro (PSL), com 5%.
A partir de então, Lula e Bolsonaro cresceram, enquanto Marina e Alckmin caíram. Ciro se manteve estável.
Trinta meses e 12 pesquisas depois, o instituto mostrou no mês passado Lula na liderança, com 30%. Bolsonaro em segundo, com 17%, seguido por Marina (10%), Ciro (6%) e Alckmin (6%).
Preso desde abril deste ano, Lula não deve conseguir confirmar sua candidatura, mas o PT tentará transferir seus votos para um outro nome.
As pesquisas do Datafolha mostram que o principal trunfo do ex-presidente é o eleitorado que só tem o ensino fundamental, pobre --com renda familiar de até dois salários mínimos-- e do Nordeste, região em que ele atinge 49% das intenções de voto. Essas faixas são o foco do Bolsa Família, carro-chefe do lulismo.
Seus calcanhares de aquiles permanecem os mesmos verificados em 2015: o eleitorado mais rico, mais escolarizado e que mora no Sul e no Sudeste.
É entre os que têm renda familiar mensal de mais de dez salários mínimos que aparece o menor número ligado ao nome Lula na pesquisa, apenas 14% das intenções de voto.
Embora esse estrato tenha uma margem de erro bem maior (11 pontos percentuais) do que a do levantamento como um todo --que é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos--, as pesquisas anteriores também trazem indicador ruim, o que torna bastante provável o baixo desempenho no segmento.
Bolsonaro mais que triplicou suas intenções de voto até o início de 2018, quando parou de crescer, mas também manteve os mesmos pontos fracos que já se anunciavam 30 meses atrás.
Tem desempenho elevado entre o eleitorado masculino (23%), jovem (26%) e que tem renda familiar maior do que cinco salários mínimos, estrato em que atinge até 30%.
Seus pontos fracos são o eleitorado feminino (11%), acima de 45 anos (12%) e que mora no Nordeste (8%). A região, que é palco de várias das visitas do presidenciável nos últimos tempos, reúne 27% do eleitorado nacional.
Bolsonaro se declarou por várias vezes nos últimos anos contrário aos programas sociais, afirmando que a única medida eficaz de combate à miséria e a criminalidade era o controle de natalidade da população pobre. Agora, diz defender o Bolsa Família.
Sobre mulheres, ele já defendeu a tese de que elas ganhem menos do que os homens porque engravidam.
Marina Silva sofreu uma deterioração e se enfraqueceu em um de seus maiores trunfos. Em dezembro de 2015 tinha a preferência de 32% dos jovens (16 a 24 anos), apesar de marcar 24% das intenções de voto no geral. Agora, o apoio entre os jovens é de 10%, o mesmo do seu eleitorado como um todo.
A principal fraqueza da candidata se mostra na fatia mais rica da população e que mora na região sul.
Nenhum dos entrevistados do Datafolha que tem renda maior do que dez salários mínimos a apontou como preferida na pesquisa de junho. Embora a margem de erro do segmento seja alta, quase todas as pesquisas anteriores também indicam fragilidade nesse estrato.
Ciro Gomes tem como ponto forte os eleitores mais ricos (11% contra 6% de suas intenções de voto no eleitorado geral). Sua preocupação também reside nos jovens (3%).
Já Alckmin, que perdeu terreno para Bolsonaro nesses 30 meses, mantem resultado ligeiramente melhor no Sudeste e entre brasileiros mais ricos. Seus pontos fracos, porém, estão nas regiões Nordeste, Norte e Sul, onde não marcou em nenhuma delas mais do que 3% das intenções de voto na pesquisa de junho.
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