Por Bruno Villas Bôas e Alessandra Saraiva | Valor Econômico
RIO - Oficializado ontem candidato à Presidência da República pelo Partido Social Liberal (PSL), o deputado federal Jair Bolsonaro usou seu primeiro discurso para acenar em direção ao eleitorado de gays, mulheres, negros e nordestinos, pregando união entre ideologias. Líder nas intenções de voto, mas isolado politicamente, Bolsonaro disse que não é o salvador da pátria e se classificou como o "patinho feio" da corrida eleitoral. Mas o momento de brilho do deputado, na oficialização de sua candidatura, foi ofuscado com declarações de sua possível vice, a advogada Janaína Paschoal, que criticou em discurso no evento a mentalidade do eleitorado do político.
Com quase três mil pessoas presentes à convenção, realizada pela manhã num centro de convenções no Rio, Bolsonaro foi recebido com gritos de "mito" e "eu vim de graça". Bolsonaro mostrou emoção com a recepção e chorou quando foi executado o hino nacional. O auditório ficou lotado de correligionários, parte usando roupas verde e amarelo e com bandeira nacional.
O candidato do PSL discursou por quase um hora. Resumiu sua trajetória política desde que se candidatou a vereador pela capital fluminense em 1989, até sua chegada ao Congresso como deputado federal. Pontuou o discurso com citações bíblicas e distribuiu críticas ao PT e ao governo Michel Temer, além de acenar diversas vezes para militares, chamados por ele de "irmãos".
Bolsonaro voltou a criticar o acordo feito pelo presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, com o chamado Centrão - bloco formado por DEM, PP, PR, SD e PRB. "Vou até agradecer Alckmin por ter juntado a nata do que há de pior no Brasil no seu lado", disse Bolsonaro, que foi descartado por partidos como o PR, do senador Magno Malta (ES).
Líder nas pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro segue sozinho na disputa eleitoral, sem um partido aliado, e com poucos segundos de tempo de televisão. Por isso, o candidato disse ser o "patinho feio" das eleições presidenciais, mas que tem certeza será "bonito brevemente".
Bastante aplaudida em sua chegada à convenção, Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, fez discurso que desagradou parte dos aliados de Bolsonaro. Convidada para vice da chapa, surpreendeu ao pedir mais tolerância e criticou a defesa de um pensamento único dos apoiadores do deputado.
"Não se ganha eleição e nem se governa com pensamento único. Os seguidores do deputado Bolsonaro têm ânsia de ouvir um discurso inteiramente uniformizado. Pessoas só são aceitas quando pensam exatamente as mesmas coisas. Reflitam se estamos correndo o risco de fazer o PT ao contrário", disse ela. "Não é ao Bolsonaro que tenho fidelidade, mas ao meu país".
Filiada ao PSL desde maio, Janaina pediu mais tempo para decidir se aceita ser vice. Ela é a terceira pessoa convidada por Bolsonaro para a vaga, sintoma de seu isolamento político e das dificuldades para formar alianças na campanha. Após o fim da cerimônia, Bolsonaro buscou minimizar o mal-estar do discurso da advogada e o pedido por mais prazo para a decisão.
"Ela pediu prazo a mais para decidir, acho bom para ambas as partes. Pelo que sei, ela tem filhos e isso está atrasando um pouquinho a decisão dela", disse o deputado, acrescentando que ela tem liberdade para expressar sua opiniões e que não seria possível "afinar 100% o discurso".
Questionado sobre a possibilidade de precisar recorrer a outra opção para vice, ele sugeriu outros nomes de dentro do próprio partido, como o deputado federal Marcelo Álvaro Antonio e do deputado federal Luciano Bivar, empresário e espécie de presidente de honra do partido. "A legenda é muito pequena para pegar um vice de outro partido", disse Bolsonaro.
Sobre a governabilidade, o deputado disse que tem o apoio de mais de 40% dos parlamentares que compõem o chamado Centrão. Segundo ele, ocorreram de sete a oito reuniões com integrantes das legendas desse bloco e que os parlamentares teriam mostrado apoio as suas propostas. "Seria irresponsabilidade da minha parte buscar eleição sem governabilidade" disse.
O programa de governo do partido ainda está sendo trabalhado para ser divulgado. De acordo com Bolsonaro, o programa será realista. Ele citou que pretende fundir os ministério da Fazenda e do Planejamento, assim como da Agricultura com o Meio Ambiente. Ele defendeu ainda vender ou extinguir a maioria das empresas estatais.
Sem dar detalhes, o candidato disse que pode vir a vender partes da Petrobras, caso seja eleito presidente da República, proposta que estaria sendo elaborada por seus colaboradores.
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