segunda-feira, 23 de julho de 2018

Centrão espera superar arestas para fechar com tucano

Por Raymundo Costa e Rafael Bitencourt | Valor Econômico

BRASÍLIA - O apoio do Centrão à candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) a presidente ainda enfrenta alguns problemas, mas deve ser formalizado esta semana. A aliança deixa isolados os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), ambos à frente de Alckmin nas pesquisas, e pode levar à reedição da disputa entre PSDB e PT, que muitos políticos e acadêmicos já julgavam esgotada.

Com a adesão do que restava do Centrão, Alckmin, se vencer as eleições presidenciais, deve formar uma maioria confortável no Congresso: 275 deputados e 36 senadores. A maioria, contudo, não é suficiente para aprovar emendas constitucionais, o que o ex-governador paulista espera conseguir no primeiro mês de governo, fortalecido por uma votação de quase 60 milhões de votos.

No total, a aliança de Alckmin deve contar com sete partidos do Centrão. Na semana passada aderiram o DEM, PP, PR, PRB e SD. Antes já haviam se acertado com o ex-governador de São Paulo o PSD, PTB, PPS e PV. DEM e PP, na realidade, desde o ano passado estavam compromissados com o PSDB, mas utilizaram o período até as convenções para fazer propaganda das próprias legendas, caso de Rodrigo Maia (DEM), que se lançou candidato a presidente, ganhou espaço na mídia e por fim desistiu.

A demora também foi ampliada devido ao pífio desempenho de Geraldo Alckmin nas pesquisas de opinião, e sua substituição por João Doria, ex-prefeito de São Paulo, chegou a ser considerada. "A rigor, ninguém acha que Alckmin chegará ao segundo turno, mas o apoio do Centrão lhe dará 40% do tempo de televisão, o que fará grande diferença na campanha", diz o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice.

O fato é que Alckmin, lenta e gradualmente, está vencendo os obstáculos colocados à frente de sua candidatura, desde o ano passado. O primeiro foi sua eleição para a presidência do PSDB. Tucanos graúdos como o senador José Serra (SP) e Artur Virgílio (AM), prefeito de Manaus, se opuseram a que ele acumulasse a presidência do partido e a candidatura. Depois enfrentou a oposição de Tasso Jereissati (CE), outro tucano de primeira grandeza. Venceu a convenção sem maior dificuldade.

O pior, nesse período, talvez tenha sido o esgarçamento político e pessoal com João Doria, indicado por ele para prefeito de São Paulo. A situação política está apaziguada. Puro pragmatismo. A relação pessoal entre os dois nunca mais será a mesma. Mas existe um golpe ainda maior, que Alckmin jura que poderá reverter quando o horário da propaganda gratuita começar: a rejeição dos paulistas, Estado que governou quatro vezes, e agora está se bandeando para a candidatura de Jair Bolsonaro.

Para fechar a maior aliança presidencial da eleição de 2018 - em 2014 Dilma Rousseff juntou dez partidos em sua chapa -, Alckmin ainda precisa resolver algumas pendências. "Principalmente pendências regionais", alerta Cristiano Noronha. A mais grave delas é a exigência do Centrão pela retirada do ex-governador de Goiás Marconi Perillo da coordenação política da campanha tucana.

Perillo foi indicado para a função justamente para Alckmin acomodar as diversas alas tucanas insatisfeitas com sua candidatura e que exigiam mais participação na campanha do candidato. A exigências dos aliados do Centrão também não deixa de fazer sentido: os sete partidos querem evidentemente ter voz na coordenação de campanha do tucano.

De acordo com o levantamento feito pela Arko Advice, no Rio de Janeiro, o PSDB não tem candidato a governador. A sigla pode vir a apoiar o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) ou o deputado Indio da Costa (PSD). As duas legendas também tentam um acordo no Mato Grosso, onde Pedro Taques (PSDB) é adversário de Mauro Mendes (DEM). Os tucanos buscam montar um palanque único em Mato Grosso do Sul. Em Minas Gerais, o candidato do PSDB é o senador Antonio Anastasia, que tem mais chances que o deputado Rodrigo Pacheco (DEM).

Em Goiás, Perillo é inimigo político do senador Ronaldo Caiado (DEM), o candidato a governador mais competitivo no Estado. No Rio Grande do Sul, o principal dirigente do DEM, Onyx Lorenzoni, é aliado de Bolsonaro, pré-candidato a presidência pelo PSL.

O secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), tem buscado minimizar o risco de atrito na formação de alianças para os governos dos Estados após o acordo da sigla com o Centrão. Ele afirmou que as representações regionais do partido contam com "relativa autonomia" para decidir sobre as coligações locais.

"Cada Estado tem sua história política e não haverá uma imposição da parte da executiva nacional, de cima para baixo, simplesmente anulando essa trajetória por conta da aliança com o Centrão", afirmou Pestana. "Vamos agir politicamente para sempre compatibilizá-las com o projeto nacional", disse.

Para o secretário geral do PDSB, a força do ex-presidente Lula pode inviabilizar a composição de alianças, aderentes à coligação formada com o Centrão, para disputar os governos estaduais no Nordeste. "Na verdade, esses candidatos estão mais preocupados com a sua própria sobrevivência política. Tancredo [Neves] dizia: 'peça qualquer coisa ao um político menos o seu suicídio'. Então, nós vamos respeitar a dinâmica política de cada Estado", afirmou.

Ontem, o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, anunciou que conseguiu o compromisso de Alckmin para dar um suporte financeiro aos sindicatos. Segundo ele, não se trata de recriar o imposto sindical derrubado na reforma trabalhista.

"Queremos que a contribuição seja definida dentro da livre negociação, aprovada em assembleia com pelo menos 20% dos trabalhadores da categoria beneficiada pelo acordo de data-base. Todos que pertencem a essa categoria pagariam. Foi isso que combinamos, agora, com Alckmin", afirmou, logo após encontro com o candidato do PSDB.

Paulinho disse que o modelo de contribuição sindical recebeu o apoio de todo o bloco do Centrão. "Quem apresentou a ideia a Alckmin foi o ACM Neto, na última quinta-feira. Então, houve aquele estresse de todos com a declaração de Alckmin no Twitter, contra a contribuição, mas que ele desmentiu logo em seguida", afirmou.

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