segunda-feira, 23 de julho de 2018

Celso Rocha de Barros: Lições do leilão do centrão

- Folha de S. Paulo

Os principais candidatos disputaram o apoio um teve um aprendizado

Na semana passada aconteceu o leilão do centrão, bloco parlamentar que, em sua encarnação atual, compreende o DEM, o PP, o PRB, o Solidariedade e, dependendo do dia da semana, o PR.

Para entender o centrão, pense no seguinte: nas últimas décadas, houve alternância de quem ia no Congresso subornar deputados: às vezes era o PT, às vezes era o PSDB. Mas quem recebia o suborno era sempre a mesma turma, o centrão. Só o MDB, que está em um nível de profissionalismo muito acima dessa turma toda, é que já esteve dos dois lados.

Com exceção de Marina Silva, todos os principais candidatos à Presidência disputaram o centrão, ou pedaços dele: Bolsonaro, Ciro, Lula, Alckmin, todo mundo fez seu lance no leilão.

Não, não é porque todos esses presidenciáveis gostem da companhia de corruptos. Como disse na coluna da semana passada, essa eleição acontecerá enquanto a Lava Jato está no meio: nenhum dos acusados está inelegível (fora o Lula). Enquanto não estiverem, ainda têm poder, estrutura de campanha, apoios empresariais, tempo de TV. Os presidenciáveis precisam disso tudo.

O leilão do centrão foi bastante instrutivo, e cada um dos participantes aprendeu uma coisa diferente.

Bolsonaro aprendeu a falta que faz ter um partido.

Jair perdeu o centrão quando se negou a fazer aliança com o PR no Rio de Janeiro. Se tivesse aceito, talvez o partido de Bolsonaro (o PSL) elegesse um ou dois deputados a menos, e o PR, um ou dois deputados a mais. O bolsonarismo não tem organização sequer para sacrificar esses dois sujeitos e prometer-lhes compensação em caso de vitória na eleição presidencial. Um partido teria.

O PT aprendeu que a estratégia de insistir na candidatura de Lula dificulta muito atrair aliados. Por que o centrão se aliaria a uma chapa que ninguém sabe qual vai ser? Nem mesmo os aliados tradicionais de esquerda fecharam com Lula até agora. O PT ainda acha que manter Lula no centro do debate compensa esse preço pago em aliados perdidos. Veremos.

Ciro Gomes aprendeu que a bagunça do sistema político brasileiro tem lado.

Ciro teria ganho muito com uma aliança com o DEM. Além do tempo de TV, adquiriria lastro conservador suficiente para justificar uma moderação de seu discurso. Mas Ciro, que precisava também atrair votos de Lula, exagerou no discurso de esquerda nos últimos meses, e o centrão não gostou. Não, o centrão não é só fisiologismo: por ideologia ou por vontade de ir em festa de rico, o centrão é de direita, desde sua origem na Constituinte.

Alckmin, que tem partido, tem chapa pronta, e é de direita, venceu o leilão.

Foi uma vitória fundamental. Se o PSDB não tivesse vencido essa, estaria fora do páreo. Se esse tempo de TV não tivesse ido para Alckmin, teria ido a seus adversários diretos na disputa por uma vaga no segundo turno. Foi um jogo de seis pontos contra Bolsonaro, e o tucano venceu. A Bolsa de Valores, que gosta de Alckmin, subiu.

E agora começa o aprendizado de Alckmin, da Bolsa, de todos nós. Nos próximos meses, descobriremos se, afinal, isso tudo que sempre ajudou a decidir eleição no Brasil –tempo de TV, estrutura partidária, dinheiro para campanha– continua funcionando do mesmo jeito em 2018.

Pois durante todo o leilão da semana passada, ninguém sabia o quanto, exatamente, o centrão ainda valia.
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Celso Rocha de Barros, servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

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