A decisão sobre o registro da candidatura não pode, porém, deixar de seguir os ritos previstos
Conforme costuma agir o PT —dentro de uma tática, aí sim, de lawfare, guerra judicial—, a candidatura tríplex de Lula foi registrada, com Fernando Haddad de vice e Manuela D'Ávila, do PCdoB, de reserva, para abrir mais um round judicial. O partido e aliados desrespeitam a clareza com que a Lei da Ficha Limpa torna inelegível o ex-presidente, por ter sido condenado em duas instâncias, nas acusações de corrupção e lavagem de dinheiro, no processo do apartamento do Guarujá.
O partido —sob comando do próprio Lula, de sua cela em Curitiba, convertida em comitê eleitoral — segue a aplicação do plano de estendera o extremo essa discussão, afim de que o presidiário Lula, com a sub judice, possa fazer campanha ao lado de Haddad. O ideal para petistas é que Lula apareça na urna, mesmo que a candidatura venha a ser cassada depois. Seria o golpe perfeito: as pessoas votariam com a cara de Lula na telada urna, mas dariam o voto a Haddad. Um estelionato. Anuncia-se que a equipe de defesa de Lula, que já demonstrou sua inventividade, prepara-se para entrar com recursos em série nas Cortes superiores. Além do TSE, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo (STF).
O objetivo seria estender o conflito jurídico até 17 de setembro, limite para a substituição de Lula por Haddad e deste por Manuela. Caso isso ocorra, terá sido bem-sucedida a manobra de confundir Haddad com Lula. Pelo menos é o que acham petistas. Se dará certo, só esperando. Não se pode menosprezar a capacidade de a defesa do ex-presidente “fazer o diabo” — termo de Dilma Rousseff —, nessas circunstâncias. O pedido de habeas corpus entregue numa sexta-feira, no fim do expediente, em Curitiba, para um desembargador ex-companheiro libertar Lula demonstra a que ponto chega a falta de escrúpulo.
Segundo a legislação eleitoral, elaborada sem que fosse prevista tamanha desobediência a um poder da República, candidato eleito pode perder os votos até depois de encerrado o pleito. Se uma tragédia, devido à instabilidade política que causará, logo quando se precisa de altas doses de legitimidade para que os vencedores das urnas de outubro aprovem no Congresso difíceis e cruciais medidas para evitar uma hecatombe fiscal de consequências inimagináveis. Lula tomou o país de refém e pede de resgate que se rasguem todas as fundadas denúncias contra ele.
O afunilamento do atual capítulo desta história aponta para o dia 31, sexta-feira, como uma data-limite, por ser o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV. O melhor para o Brasil é que tudo esteja resolvido até lá. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, tem esta preocupação. Tudo indica que o relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, também. Não se pode perder tempo, mas é imprescindível cumprir os ritos legais.
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