- O Estado de S.Paulo
O processo criminal, a prisão, a Justiça, tudo foi instrumentalizado por Lula e pelo PT
Observando-se tudo o que o PT fez depois do impeachment de Dilma Rousseff, do envolvimento de quadros importantes de sua direção em casos de corrupção apurados pela Operação Lava Jato e da surra que tomou na eleição municipal de 2016, é preciso admitir que a estratégia política e eleitoral do partido deu certo. Previu-se de tudo a respeito do PT depois da hecatombe. Os mais otimistas, que definharia; os mais pessimistas, que acabaria. Nem uma coisa nem outra.
Mesmo com Lula processado, condenado e preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por causa das suspeitas de que teria recebido um triplex no Guarujá como pagamento a favores feitos para uma empreiteira, o partido conseguiu armar tantos barracos, criar tantos fatos ou fakes, apresentar tantos recursos à Justiça, representar ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, e até pedir as bênçãos do papa Francisco a Lula, que não saiu mais do noticiário. (Esse repórter, mesmo, está aqui, de novo, escrevendo sobre o PT e Lula).
Com tudo isso, o PT conseguiu vencer uma guerra difícil, que é a guerra da comunicação. Quem a vence sempre está em vantagem quando a disputa é política.
De uma cela da Polícia Federal, em Curitiba, onde deveria ficar isolado da sociedade, porque esse é o sentido da pena, Lula conseguiu fazer seu QG político, segundo acusação do próprio Ministério Público Federal. Dessa cela partiram as ordens para que a candidatura de Lula fosse mantida, embora improvável, por estar ele enquadrado na Lei da Ficha Limpa. De lá, Lula ordenou que o PT impedisse a aliança de Ciro Gomes com o PSB, isolando o candidato do PDT, para depois lhe oferecer um lugar de vice na chapa, o que não foi aceito. Também da cela da PF Lula escolheu o ex-prefeito Fernando Haddad para ser seu vice, e a deputada gaúcha Manuela d’Ávila, do PCdoB, para vice do vice. Ao tornar a escolha pública, Lula acabou por revelar aquilo que todo mundo já sabia, que Haddad era o plano B para a eleição. Naquela altura, o objetivo de tornar o PT e seu candidato competitivo já havia sido alcançado. Em resumo, o processo eleitoral foi sequestrado pelo PT e por Lula.
O processo criminal, a prisão, a Justiça, tudo foi tão instrumentalizado por Lula e pelo PT para manter acesa a militância partidária e o nome do ex-presidente entre os eleitores, que nesse momento importa pouco se o relator do pedido de registro da candidatura do ex-presidente é o ministro Luís Roberto Barroso, da linha dura, ou qualquer outro. Tanto é que Fernando Haddad já deu início ao processo de viagens em que ele vai se apresentar a regiões onde é pouco conhecido, como a Nordeste, onde o PT deve ser muito bem votado.
O plano de Lula e do PT tem uma segunda parte. Trata-se de escolher o deputado Jair Bolsonaro (PSL) como adversário preferencial no segundo turno. Para tanto, Lula e seus estrategistas concluíram que o adversário do partido no momento não deve ser Bolsonaro, mas Geraldo Alckmin. A conclusão é simples: numa eventual disputa da finalíssima presidencial com Bolsonaro, PSDB, PDT, PSB e outros partidos de centro e de centro-esquerda se uniriam em torno do petista. Se o adversário for Alckmin, as forças contrárias ao PT é que se juntariam em torno do tucano.
Essa parte do plano é mais difícil de ser executada, pois não depende apenas de se manter vivo na mídia. É preciso que dela o eleitor participe também.
Tem ainda um detalhe que Lula parece não ter tido tempo de observar. O PT só conseguiu vencer quando se aliou com o centro político. Em 1989, 1994 e 1998, com vices do quadro da centro-esquerda, o partido foi derrotado. Dessa vez a vice se situa mais à esquerda.
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