- Folha de S. Paulo
Pesquisas mostram relação entre opções do passado e desempenho atual das nações
Ninguém que esteve na escola pública durante a ditadura se espantou com a fala do general Hamilton Mourão, candidato a vice de Jair Bolsonaro, sobre a herança sociorracial do brasileiro.
Essa era uma das marcas do atraso intelectual na formação dos oficiais brasileiros, que até 1985 se disseminava para fatias mais extensas da população pelo fato de eles terem comandado o poder de Estado.
O racialismo é a ideia de que contrastes sutis na biologia dos povos determinam diferenças fundamentais no seu comportamento social. Teve seu apogeu entre o final do século 19 e a década de 1930, ajudou a produzir barbaridades como o extermínio em massa de judeus sob o nazismo e declinou desde então.
Se o substrato genético não é capaz de explicar as diferenças brutais no desenvolvimento civilizacional das comunidades humanas, o que as determinaria? A geografia? Traços culturais, como a religião? Ou organizacionais, como as instituições?
Há muita pesquisa de bom nível tentando responder a essa indagação com técnica. Parece haver correlação positiva entre diversidade étnica e corrupção, embora não se possa dizer que uma cause a outra.
Outra interessante associação detectada dá-se entre a prevalência de alta mortalidade em parte das colônias europeias no passado, de um lado, e a persistência de regimes oligárquicos e pouco dinâmicos nessas regiões até hoje, do outro.
Nos Andes, a região delimitada pela coroa espanhola no século 16 para a exploração semiescrava do trabalho indígena na mineração, em torno de Potosí (atual Bolívia), até hoje apresenta nível de desenvolvimento humano e econômico inferior ao de sua vizinhança imediata.
No Brasil, pesquisadores usam o marco arbitrário da fronteira entre os impérios espanhol e português, fixada no Tratado de Tordesilhas, para relacionar alta exploração do trabalho escravo no passado a desigualdade elevada de renda hoje.
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