- Folha de S. Paulo
Ascensão de Haddad no Datafolha anterior permitiu ao deputado capitalizar o discurso de oposição ao PT
Os dados divulgados pelo Datafolha confirmam a tese, já apontada pelo instituto em análises anteriores, de que o crescimento do PT nas intenções de voto alimenta também seu antagonista, Jair Bolsonaro (PSL).
A expressiva ascensão de Fernando Haddad (PT) na pesquisa de sexta-feira (28), além de nova mídia espontânea no último final de semana, em função das manifestações pró e contra sua candidatura, permitiu ao deputado capitalizar o discurso antipetista e não só intensificar apoio em segmentos onde já encontrava entusiastas como também garimpar eleitores em estratos que mais o rejeitam.
A simpatia por sua candidatura ficou ainda mais forte no Sul, entre os mais ricos e mais escolarizados, mas também se espraiou para estratos de menor renda, para o Nordeste e inclusive no segmento feminino.
Bolsonaro continua rejeitado por metade das mulheres do país, e sua taxa de intenção de voto no estrato continua muito mais baixa do que no segmento masculino, mas, depois do final de semana, o índice das que pretendem elegê-lo subiu seis pontos percentuais.
Ao se combinar variáveis demográficas e econômicas, percebe-se que esse crescimento foi de 10 pontos percentuais entre as mulheres com renda mais alta, porém se mostra significativo também em estrato de maior peso na composição do eleitorado —entre as mulheres com até dois salários mínimos, ele subiu cinco pontos percentuais.
Uma hipótese para o fenômeno é o grau de identificação de subconjuntos femininos com valores das que se mostraram nos últimos dias contra ou a favor do capitão reformado.
Um exemplo é que homens e mulheres de famílias nucleares, isto é, casados e com filhos, tendem a votar muito mais no candidato do PSL. Já entre as mães solteiras, Haddad lidera com folga: o apoio ao petista chega a 29% contra 14% do ex-deputado.
O vetor religioso também ganhou holofotes em função da declaração de apoio do bispo da Igreja Universal, Edir Macedo, a Bolsonaro. Porém, pelo menos por enquanto, não há evidência de migração expressiva de evangélicos para o candidato por conta disso —o capitão reformado já era o mais votado pelo segmento (chega a 40% de intenção de voto agora).
Nos últimos 20 dias, Haddad oscilou positivamente três pontos nesse grupo, que responde por um terço do eleitorado. Mas vale aí a observação: nenhum outro estrato do país é tão evangélico quanto as mulheres com renda de até 5 salários mínimos.
Entre os católicos, que correspondem a 55% dos brasileiros, a diferença do candidato do PSL para o petista, no entanto, é de apenas 4 pontos percentuais.
Com tais registros simbólicos propagados não só pelo noticiário na TV, como pelas propagandas eleitorais e especialmente pelas redes sociais, a reação do eleitorado se dá praticamente em tempo real, potencializada pelo sentimento de desalento e insegurança que caracterizam esta eleição.
A maioria dos brasileiros tem conta em algum desses serviços de comunicação instantânea e considera como um dos mais importantes fatores para a decisão do voto algo que esse tipo de veículo facilita: a conversa com familiares, amigos e colegas.
E para se ter uma ideia da diferença do grau de ativismo dos eleitores de cada candidato nesse tipo de rede, a taxa dos que pretendem votar em Bolsonaro e que compartilham conteúdo político pela mais rápida delas, o WhatsApp, é o dobro da verificada entre os eleitores de Fernando Haddad (40% contra 22%, respectivamente).
Com o movimento, apoiadores do capitão reformado sonham com vitória no primeiro turno. Para que isso aconteça, Bolsonaro tem que alcançar cerca de 45% do total de votos nos próximos dias, considerando-se uma taxa histórica de 10% de brancos e nulos.
Para evitar em escala nacional o que lhe ocorreu na disputa pela reeleição na cidade de São Paulo, Fernando Haddad precisa calibrar os códigos de comunicação de sua campanha com estratos de importante peso no eleitorado e que se mostram mais indecisos ou desiludidos, como as mulheres, os menos escolarizados e de menor renda, em quatro dias, e sem a ajuda de seu padrinho político.
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*Paulino é diretor-geral do Datafolha e Janoni, diretor de pesquisa do Instituto
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