- O Globo
Há chance de o país crescer mais em 2019, mas apenas se o eleito souber aproveitar bem os primeiros seis meses. E há dúvidas sobre a agenda dos dois
Os números do terceiro trimestre estão melhores do que o esperado, e a economia pode terminar o ano mais forte do que se previa. Há chances reais de um ano que vem melhor, mas tudo vai depender da pauta de quem for eleito. No caso de Jair Bolsonaro, a economia espera que ele inicie com as reformas, mas a sua principal agenda é a de mudar a maioridade penal, proteger policiais e liberar armas. O que viria primeiro? No caso de Fernando Haddad sua prioridade é desmontar o que foi feito por Michel Temer, e não se sabe ainda o que fará.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, argumenta que o novo governo herdará uma série de reformas microeconômicas que podem ajudar a impulsionar o país. Até porque há a chance concreta de que o ano que vem seja melhor do que o atual. Vale está com um número mais otimista do que a média do mercado para o PIB deste ano (1,6%). E acha que em 2019 o crescimento pode ser de 2,2%, com criação líquida de 800 mil a um milhão de empregos formais.
Tudo vai depender, contudo, do caminho anunciado pelo eleito. Para ele, pessoalmente, ainda é uma incógnita o comprometimento de Bolsonaro com a questão fiscal e com a agenda liberal, mas ele nota que a visão do empresário em geral é que o candidato do PSL faria um governo de continuidade das reformas do governo Temer. Já com Fernando Haddad a percepção é que ele não conseguiu rever as teses que levaram ao desastre do governo Dilma.
— A economia está com tudo pronto para voltar a crescer mais fortemente e chama atenção os dados do terceiro trimestre. Mesmo com a incerteza eleitoral e o choque da greve dos caminhoneiros, os números estão bons. E 2019 pode ser melhor. Esta semana, o Banco Central divulgou o índice de atividade econômica IBC-Br de agosto, com alta acima do esperado e a terceira consecutiva.
As vendas de automóveis em outubro estão muito fortes. Mas o ritmo da retomada dependerá do que o novo presidente pretende fazer no melhor momento, que são os primeiros seis meses, a chamada lua de mel. O governo FH usou esse tempo pra fazer a reforma do capítulo econômico da Constituição, que deu o rumo ao seu governo. No caso de Haddad, o candidato tem falado em desfazer as reformas feitas pelo governo Temer, principalmente o teto de gastos.
Com Bolsonaro, há a incógnita: o que virá primeiro, sua pauta de segurança ou os pacotes econômicos dos economistas? Bolsonaro tem uma pauta preferencial que vai exigir mudanças legais ou constitucionais: a redução da maioridade penal, a liberação de posse e porte de armas e o que é definido como excludente de ilicitude, que protege policiais que matam em serviço.
Há receio de que esses projetos sejam os primeiros a ocupar a pauta da Câmara. —Em caso de vitória de Bolsonaro, que parece ser o mais provável, o mercado espera que o projeto da Previdência seja encaminhado logo nos três primeiros meses e que seja um texto tão duro quanto o do governo Temer. Dois anos de reforma já foram perdidos. Não dá para ser mais leve e nem esperar demais —explicou Vale.
Se seu pacote de segurança for a prioridade, as mudanças como reforma da Previdência, podem ficar em segundo plano. E nesse assunto há divergências entre os economistas e o núcleo econômico. No caso de a vitória ser de Haddad, a lua de mel seria gasta no desmonte do governo Temer. Sérgio Vale tem uma visão positiva do governo Temer: acha que fez muito em pouco tempo.
Há, por exemplo, reformas microeconômicas em andamento que ajudam a destravar o crescimento. Na quarta-feira, o Senado aprovou o projeto que regulamenta a duplicata eletrônica, e agora o texto vai a sanção presidencial. Isso deve reduzir custos do capital de giro das pequenas e médias empresas. O economista João Manoel Pinho de Mello, da Assessoria Especial de Reformas Microeconômicas do Ministério da Fazenda, faz um balanço das medidas aprovadas que vão ajudar o próximo presidente:
—A reforma trabalhista já está diminuindo o número de litígios. A agenda BC+ conseguiu diminuir um pouco o spread. Revisamos a obrigatoriedade do conteúdo local no setor de óleo e gás. A Câmara já aprovou o cadastro positivo e o distrato imobiliário. Os dois projetos estão bem avançados no Senado.
O ano que vem terá o impulso da recuperação cíclica e a vantagem da confiança de um novo governo consagrado pelas urnas. Dependerá do presidente eleito focar no principal
Nenhum comentário:
Postar um comentário