quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Vinicius Torres Freire: Mais escuridão na campanha

- Folha de S. Paulo

Vantagem de Bolsonaro deve prejudicar e obscurecer ainda mais o debate de programas reais

A clara vantagem de Jair Bolsonaro na largada do segundo turno favorece a escuridão nos debates eleitorais, se é que haverá alguma discussão.

É bem plausível que o candidato do PSL jogará para manter o resultado, essa goleada na primeira partida das finais.

Quanto a Fernando Haddad (PT) não restará a estratégia, agora muito tardia, de se desfazer do peso e do lastro indesejável dos exclusivismos petistas, que repeliram parte do eleitorado mais centrista e ameaçam derrubar precocemente o balão murcho de sua candidatura.

A vantagem de Bolsonaro no Datafolha, 58% a 42%, deve obscurecer os programas reais dos candidatos. Bolsonaro tende a calar ainda mais sua campanha. Haddad terá de se travestir em público, rasgando fantasias petistas.

Os planos Bolsonaro e Haddad para a Previdência já ficavam parecidos. Qual reforma pretendem fazer? As respostas convergiam: "alguma".

Impostos? Quem ganha até uns cinco salários mínimos deixaria de pagar Imposto de Renda, dizem. Quem bancaria a diferença, pois o governo está quebrado? "Alguém." Aqui uma divergência, nítida como uma mula preta na estrada em noite de neblina. Para Haddad, um "alguém" mais rico (defina rico). Para Bolsonaro, um "alguém" que não está pagando imposto bastante (em geral, algum de muito rico).

Em 13 anos e pouco, os governos do PT não propuseram tributos maiores para os rendimentos maiores.

Um eventual governo Bolsonaro é festejado pela nata e pela flor de sal dos rendimentos maiores justamente porque, entre outros motivos de suposta alegria, limitaria impostos. Pelo menos era festejado até Bolsonaro colocar água no chope da reforma da Previdência e das privatizações.

O candidato do PSL não quer privatizar o peru gordo das estatais (Petrobras, bancos e Eletrobras) e, de quebra, fez um discurso "vintage" contra o entreguismo, a venda das geradoras de energia para empresas chinesas, posição típica de comunistas e militares nacionalistas desde antes da metade do século 20, mofo que sobrevive na esquerda e nas Forças Armadas.

Há também a meta desconversa ou a conversa mole ao quadrado, a omissão desavergonhada ou inepta.

O que os candidatos vão fazer com a norma de reajuste do salário mínimo, que caducou, também parte do problema da Previdência?

O que vão fazer com o subsídio do diesel, que vence no fim do ano? Se continuar a valer, custará R$ 19 bilhões em 2019. Contando ainda a renúncia de impostos sobre combustíveis, tudo custaria uns R$ 27 bilhões. Um Bolsa Família, que dá de comer para mais de 50 milhões de pessoas. É mais dinheiro que todo o investimento federal em obras previsto para o ano que vem.

Quanto à Previdência, os pavorosos programas de Bolsonaro e Haddad eram de um desconversa acintosa.

O programa do PT dizia que crescimento da receita e combate à sonegação dariam conta do desastre.

O programa bolsonarista mencionava de passagem o problema, um par de linhas, para logo em seguida desconversar, propondo uma realidade paralela, um sistema alternativo (o de capitalização, de contas individuais), o que aumentaria a ruína do sistema previdenciário.

Como tapar o rombo ainda maior? Criando um fundo, lê-se no plano Bolsonaro. De onde viria o dinheiro para encher o fundo? Não se explica.

Um candidato tende a não explicar mais nada. Outro terá de se explicar para catar eleitores descrentes da conversão centrista.

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