- Folha de S. Paulo
Candidato usou retórica de desrespeito, mas deve condenar agressões com veemência
Jair Bolsonaro afirmou que dispensa o apoio de quem pratica violência contra seus opositores. No lugar de uma condenação veemente, publicou uma mensagem com um esforço banal de se descolar de ataques com motivação política registrados nos últimos dias: “A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência”.
A não ser que esteja concorrendo a vereador em Serra da Saudade (MG), Bolsonaro deveria estar mais preocupado. O próximo presidente vai assumir o comando do país num momento em que pessoas agridem e matam outras por razões políticas.
O presidenciável conhece como poucos a intolerância que esta eleição despertou. O bárbaro atentado que sofreu há pouco mais de um mês foi um sinal dramático de que a situação ameaçava sair do controle.
Na ocasião, seus adversários na disputa repudiaram o episódio, mas alguns deram de ombros. Embora tenha emitido um lamento, Dilma Rousseff disse que Bolsonaro plantou o ódio que se voltou contra ele. Recomenda-se que o candidato não reproduza a insensatez de seus rivais.
Quando o capoeirista Moa do Katendê foi morto com 12 facadas numa discussão política, Bolsonaro disse que o criminoso cometeu um “excesso”. A vítima declarava voto no PT. O assassino defendia o candidato do PSL e disse ter sido xingado. O presidenciável perguntou: “O que eu tenho a ver com isso?”.
A maioria dos eleitores de Bolsonaro obviamente reprova essa selvageria. É papel digno de um líder entrar em sintonia com seus apoiadores, manifestar repulsa e censurar qualquer comportamento agressivo.
Sem provas, o deputado diz suspeitar que alguns casos de violência são forjados para prejudicá-lo. Não custa demonstrar indignação enquanto aguarda as investigações.
O candidato conquistou apoio com uma retórica de desrespeito a adversários políticos e minorias. Um presidente não pode legitimar a intolerância. A panela foi destampada e há poucos indícios de que a temperatura vai cair após a eleição.
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