Com a força do voto, eleitorado pune políticos acusados de corrupção e não poupa caciques
A de maior repercussão provavelmente desde a de 1989, quando Fernando Collor de Mello foi eleito, a eleição atual oferece inúmeros aspectos que escapam aos padrões de normalidade dos pleitos. Até mesmo devido à entrada em vigor do primeiro estágio da cláusula de desempenho exigida dos partidos, para reduzir uma das distorções da política brasileira, o número excessivo de legendas.
Há, ainda, a renovação do quadro de parlamentares. Na Câmara, 47% dos eleitos são estreantes na política. O maior índice em 20 anos. Deve-se torcer para que a qualidade dos deputados melhore. Afinal, a troca pura e simples das pessoas não significa que tudo mudará para melhor. Porém, é um passo, ainda mais diante do marasmo e do relativo pessimismo que havia com a possibilidade de renovação.
Mas um indicador das mudanças impostas pelo eleitorado, como deve ser nas democracias representativas, é o afastamento do Legislativo de políticos envolvidos em corrupção, em que se destacam atingidos pela Lava-Jato.
Levantamento de “O Estado de S.Paulo” constatou que 77 políticos que respondem a investigações da força-tarefa de Curitiba se candidataram, e 40, pouco mais da metade, não conseguiram se eleger. Uma taxa de sucesso de 50% talvez não pudesse ser alcançada pelos tribunais, numa simulação imperfeita, mas que vale como indicador.
Nomes de peso da vida parlamentar, de vários partidos, ficaram pelo caminho vítimas da saudável vingança cidadã do eleitor. No Senado, uma bancada de acusados de receber propina da Odebrecht teve barrado o desejo de continuar na Casa: Romero Jucá (MDB-RR), Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente da Casa, e seu vice, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), por exemplo, foram castigados pela falta de votos.
No outro extremo do espectro político, o estridente senador Roberto Requião (MDB-PR), soldado das manobras lulopetistas no Congresso para livrar Dilma do impeachment e o ex-presidente Lula de dissabores normais de quem é acusado de corrupção, também ficou sem mandato.
Em campanha para o Senado, o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) chegou a ser preso. O ministro do STF Gilmar Mendes o soltou. Porém, tido como favorito, não conseguiu uma das duas vagas em disputa. Ficou em sexto.
É um exagero usar o bordão popular de “a Justiça tarda mas não falha”, em alguma medida, no entanto, ele pode ser aplicado às eleições deste ano como uma correção do resultado de muitas manobras executadas no Legislativo, uma característica da República brasileira aristocrática e patrimonialista.
Deve-se citar as inesquecíveis gravações feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, braço do petrolão, em que Renan Calheiros, Eunício Oliveira, Jucá, Sarney e outros tramam para dificultar a Lava-Jato no Congresso. O que conseguiram manobrar terminou compensado pela faxina feita pelo eleitor.
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