Bairro do rapper paulistano sustenta as críticas que ele fez ao PT em discurso no Rio
Embora seja uma prática histórica na esquerda, a autocrítica passa ao largo do PT. A falta de qualquer reconhecimento formal do cometimento de erros graves nos 13 anos de poder em Brasília afastou aliados e ajudou a esvaziar o plano da “frente democrática”, para atrair outros segmentos políticos a fim de enfrentar Jair Bolsonaro no segundo turno.
Não deu certo. Fernando Henrique (PSDB) executou um drible de corpo em Haddad e no PT, enquanto Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) formalizaram um “apoio crítico” e desapareceram. Ciro, pela porta de embarque de um voo para a Europa. Derrotado de forma incontestável, o PT é forçado a fazer uma autocrítica. Que ainda será a portas fechadas, é certo. Entende-se a dificuldade de o partido reconhecer a falha fatal da adesão à corrupção federal, com ramificações até internacionais, enquanto o líder carismático da legenda está preso em Curitiba. Por corrupção. Soaria como reconhecimento de culpa. Mas o mea culpa terá de ser feito. Os petistas continuarão a se deparar com esta questão.
O partido deve também se debruçar sobre os mapas de votação e tentar entender por que Haddad perdeu para o direitista Jair Bolsonaro em áreas que já foram cativas da legenda. Em um comício na Lapa, no Rio, no dia seguinte à vitória de Bolsonaro no primeiro turno, entre discursos típicos, o rapper Mano Brown, de Capão Redondo, periferia da Zona Sul de São Paulo, outrora cativa do PT, quebrou o “clima de festa” e, entre outras frases, soltou estas: “Não gosto de clima de festa. O que mata a gente é o fanatismo e a cegueira. Deixou de entender o povão, já era”. Vaias à lucidez.
Dias depois, O GLOBO visitou Capão Redondo, conversou com moradores. Uma delas, Marília de Souza. Vendia guarda-chuvas à frente da estação de metrô do bairro. Em 2014, votou em Dilma, e, este ano, abandonou o PT. Explicação: “onde já se viu um cara (Lula) preso querer governar o país? Nunca vi isso. Roubou e ainda vai querer colocar alguém pra comandar o Brasil?”
O perfil de Capão Redondo é um indicativo dos descaminhos que tomaram os votos do PT em regiões de renda mais baixa, onde Bolsonaro foi bem votado. Um dos 96 distritos da cidade, Capão Redondo é o 79º no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal.
Embora a situação tenha melhorado nas últimas décadas, a violência ainda é uma das mais elevadas da capital. Fica entre o 2º e o 5º lugar na lista dos bairros com mais homicídios. No ano passado, 386 assassinatos.
Há recorrentes reclamações de que o PT abandonou esta periferia. Haddad, na eleição municipal de 2016, já teve grande derrota para João Doria (PSDB) no local. A candidatura de Bolsonaro, com forte discurso sobre segurança, encontrou espaço livre para crescer. A bandeira paternalista das “políticas sociais” perdeu a eficácia, e a cobrança da autocrítica persegue o PT nas ruas.
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