- Folha de S. Paulo
Votar remendo de reforma da Previdência neste ano será desperdício de capital político
Difícil prefigurar a votação de uma reforma forçosa e impopular como a da Previdência ainda neste ano, sob o signo de um Congresso de inúmeros derrotados nas urnas. Não é por menos que líderes partidários despejam ceticismo sobre as pretensões temer-bolsonaristas de aprovar até dezembro alguma mudança nas regras das aposentadorias e pensões.
O presidente e seu sucessor deverão discutir na próxima semana, no primeiro encontro que terão após as eleições, o destino da reforma previdenciária. Para Michel Temer, qualquer remendo avalizado em 2018 pelo Parlamento incrementará sua avariada biografia presidencial. Para Jair Bolsonaro, uma investida nesse sentido é aposta de risco.
A proposta do futuro governo, que prevê alterar normas do atual modelo de repartição e criar um regime de capitalização para gerações futuras, carece de detalhamento. Ao passo que excedem informações desencontradas e por vezes desautorizadas por Bolsonaro. Militares serão submetidos às mudanças? A desvinculação do salário mínimo entrará no debate? Qual será a idade mínima a ser defendida? Incorporará uma nova contribuição para financiar o sistema? Aceitará alguma das alternativas sugeridas no estudo do economista Armínio Fraga?
Definições importantes que precisam passar pelo custoso processo de convencimento de parlamentares e da população, restando menos de dois meses para o encerramento dos trabalhos legislativos. Além disso, outras prioridades, como a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro e a votação do Orçamento de 2019, acabariam sendo relegadas a segundo plano.
Entre tapas e beijos, o novo governo faz o cálculo político e é improvável que se aventure se sentir algum cheiro de derrota no ar.
No mais, aprovar uma reforma em dois tempos, um arremedo agora e, mais à frente, uma mudança que de fato enderece a complexidade do problema, sugere incineração de capital político.
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