Defesa de mudanças graduais é uma forma de adiar sem prazo o aumento da competição interna
É parte da agenda do presidente eleito Jair Bolsonaro abrira economia para expor o empresário brasileiro, principalmente da indústria, à competição externa. No Brasil, país com tradição secular de protecionismo, toda vez que se propõe algo neste sentido, surgem clamores para que nada seja feito.
É certo que deve haver cuidados para impedir quebradeiras, porém, sem o choque da competição externa, empresários acostumados ao berço esplêndido do protecionismo verde e amarelo não se movimentarão para ganhar competitividade. Lembre-se de Collor, no início dos anos 1990, e da indústria automobilística. O presidente reduziu a proteção ao setor, e os veículos melhoraram de qualidade. Deixaram de ser “carroças”.
Cabe ao Estado dar condições para a realização dos investimentos necessários à modernização, como a redução da burocracia e da alta taxação na máquinas e software spa raque o país entre de fato na era da “indústria 4.0”, com o uso crescente de robôs e de tecnologia avançada em geral. Empresários que planejam dar saltos de produtividade recuam diante do emaranhado burocrático e das elevadas tarifas para importar maquinário que tenha “similar nacional”. Elas costumam estar no teto de 35% permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Este um motivo da baixa eficiência da economia brasileira.
Estudo feito pela própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) junto a 750 empresas constatou que apenas 1,6% delas estava neste estágio tecnológico avançado. Na Alemanha, conhecida pelo avanço industrial, são 50%.
Criticar a abertura “unilateral” é uma forma sub-reptícia de manter tudo como está. Assim como defender que o país, primeiro, tem de fazer as reformas para reduzir o “custo Brasil”, antes de se aumentar a competição no mercado interno, por meio de maior abertura ao mundo. Ao contrário, a abertura é um passo inicial necessário, porque lideranças de classe, resguardadas em associações que são trincheiras enlameadas, cercadas de arame farpado, na imagem criada pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, passarão a querer a modernização. Será isso, integrando-se a cadeias globais de suprimento, a venda da empresa ou a falência.
Estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), da Presidência da República, sobre impactos da abertura da economia, apontou, como um dos reflexos positivos, a previsível queda de preços. Em 57 setores, seria, em média, de 5%, pouco mais que a inflação anual. Ganha, portanto, o consumidor.
As exportações seriam impulsionadas, e 3 milhões de trabalhadores necessitariam de requalificação, devido à mudança de perfil do mercado de trabalho. É certo que o balanço de ganhos e perdas é altamente positivo. Mas é preciso enfrentar a resistência de grupos que se beneficiam de uma economia fechada, de características cartoriais.
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